A
campanha “Segunda sem carne” surgiu em 2003 nos Estados Unidos,
chegando ao Brasil em 2009, e tem como objetivo a substituição da
ingestão de proteína animal por proteína vegetal por, pelo menos,
um dia na semana. O intuito é diminuir a demanda coletiva por
produtos de origem animal e gerar benefícios para a saúde das
pessoas, para o meio ambiente e para os animais. Estas informações
foram retiradas da página "Segunda sem carne, descubra novos
sabores”, embora a mesma não defina quais seriam esses benefícios.
Vamos
falar sobre o que mais nos interessa: as pessoas. Afinal um planeta
com meio ambiente perfeito (embora não se possa definir o que viria
a ser um meio ambiente perfeito), e repleto de animais vivendo em
harmonia, de nada nos serviria sem a humanidade vivendo nele. Sim, é
um axioma.
Em
geral a
carne
vermelha
é
uma boa fonte
de proteína,
niacina, vitamina B6, vitamina
B12, fósforo, zinco e ferro, além
de uma
série de gorduras, incluindo ácidos ômega-3.
Vamos nos concentrar nas proteínas.
Cerca
de 20% do corpo humano é composto por proteínas, embora o mesmo não
armazene-as, daí a necessidade de uma ingestão diária de fontes
proteicas podendo as mesmas serem de origem animal ou vegetal. A
diferença entre estas duas fontes são os aminoácidos que elas
contém.
Quando
ingeridas, as proteínas são quebradas em aminoácidos, sendo estes
utilizados em praticamente todas as funções metabólicas do
organismo. As proteínas de origem animal fornecem aminoácidos de
alto valor biológico em quantidades e proporções ideais para
atender às necessidades orgânicas, sendo, portanto, uma proteína
completa. Já as proteínas de origem vegetal são de baixo valor
biológico, pois têm uma quantidade menor de aminoácidos, tendendo
a ser pobres em metionina, triptofano, lisina e isoleucina.
Embora
a carne esteja sendo considerada a “malvada” da vez, pesquisas
avançadas sugerem que o problema não seja a carne em si, mas sim a
carne processada: presunto, bacon, salsicha, linguiça, mortadela,
etc.
No
episódio “O nascimento da mente” da série “Humanos, quem somo
nós”, disponível no youtube, verifica-se que a mudança de dieta,
no homem primitivo, a partir da ingestão de proteína animal, foi
decisiva na formação do cérebro humano conforme o temos hoje.
Segundo o documentário, ao consumir carne o homem conseguiu uma
quantidade de energia jamais conseguida anteriormente, o que
possibilitou o aumento do cérebro e, consequentemente, o
desenvolvimento de habilidades únicas dentro do reino animal, como a
comunicação e a tecnologia.
A
revista National Geographic cita na reportagem “A evolução da
dieta” que “a
ingestão de carne foi crucial para a evolução dos cérebros de
maior dimensão dos nossos antepassados, há dois milhões de anos.
Ao ingerir carne e tutano em vez da dieta vegetal dos símios, o
nosso antepassado direto, o Homo
erectus,
acumulava energia suplementar em cada refeição. Alimentou assim um
cérebro maior. A digestão de alimentos de melhor qualidade e fibra
vegetal menos volumosa terá permitido que estes seres humanos
possuíssem um aparelho digestivo menor. Por sua vez, a energia
disponibilizada graças à menor dimensão do aparelho digestivo
teria sido utilizada pelo cérebro, segundo Leslie Aiello, a primeira
a propor esta hipótese, juntamente com o paleoantropólogo Peter
Wheeler. O cérebro consome 20% da energia do corpo humano em
repouso; em comparação, o cérebro de um símio requer apenas 8%.
Isto significa que, desde o Homo
erectus,
o corpo humano tem dependido de um regime alimentar composto por
alimentos ricos em energia.”
A
ingestão de carne não foi essencial somente para a formação do
cérebro ao longo da evolução, mas ainda o é, hoje em dia, para a
formação de memória. A palestra “Cérebro e aprendizagem: um
diálogo entre a neurociência e a educação” ministrada pela
Profa. Dra. Leonor Bezerra Guerra para o Núcleo de Formação de
Professores da Universidade Federal de São Carlos, disponibilizada
também pelo youtube, destaca que, para que haja aprendizado são
indispensáveis três requisitos: repetição, sono e ingestão de
proteína. Segundo a professora, o assunto a ser aprendido deve ser
visto e revisto diversas vezes para que, durante o sono, haja uma
modificação no neurônio, chamada de espícula dendrítica (sendo
esta o resultado da aprendizagem ou a representação física da
memória), podendo somente ser promovida na presença de proteína. A
palestra que dura mais de duas horas explica com detalhes como se dá
essa modificação cerebral que promove a formação de memória ou
aprendizagem a partir de novas sinapses.
O
blog “Neurociências em benefício da educação” confirma que
“aprendizagem nada mais é do que modificarmos nossos
comportamentos”, que para acontecer
“se faz necessário ocorrer uma mudança física dentro de nosso
cérebro, que é justamente o crescimento das espinhas dendríticas
(espículas dendríticas)”.
Além
disso, pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, e da
Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, descobriram que uma
proteína denominada creb controla a capacidade de um neurônio para
participar da formação de memórias. Segundo o estudo, os neurônios
competem para codificar uma memória no cérebro, sendo que os que
vencedores
possuem
altos
níveis de creb. “Descobrimos
que a quantidade de creb influencia se o cérebro armazena ou não as
memórias. Se uma célula apresenta pouca quantidade dessa proteína,
é menos provável que mantenha a memória. Se ela a apresenta em
quantidade, o armazenamento é mais provável”, explicou Alcino
Silva, coordenador da pesquisa e professor de neurobiologia e
psiquiatria na Escola de Medicina David Geffen School, da Ucla.
Estudos
anteriores haviam identificado a falta de certa proteína denominada
Arc (actin-regulated
cytoskeleton)
no cérebro de pacientes com mal de Alzheimer. Experimentos
realizados pelo professor de neurologia e fisiologia da Universidade
da Califórnia Steve Finkbeiner, revelaram
que a proteína Arc age como um regulador mestre dos neurônios
durante o processo de formação da memória de longo prazo.
Destacada
a importância da ingestão de proteínas para os seres humanos, é
sempre bom lembrar que a natureza não é linda, fofinha, nem mesmo
justa. O homem não é o único animal carnívoro na natureza. Deixar
de ingerir carne não garante a sobrevivência do animal em questão.
Se você não come uma galinha, uma raposa irá comê-la.
Eu
acho que uma das piores consequências da ingestão de carne pelo
homem primitivo, que possibilitou a formação do cérebro como o
temos hoje, foi evoluir até o ponto em que o homem pós-moderno
conclua que tem em suas mãos todo o controle sobre o universo, o
presente e o futuro.
REFERÊNCIAS: