quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Psicologia do Desenvolvimento e Teorias da Aprendizagem - Aula 1

Preparei, a pedido da Professora Diva, esse resumo (com esqueminha) com as teorias de aprendizagem para a primeira aula de PDTA (Psicologia do Desenvolvimento e Teorias da Aprendizagem) do segundo semestre de Psicologia/2016. Sejam bem vindos calouros e veteranos!


TEORIAS DA APRENDIZAGEM

Psicologia é a ciência que estuda o comportamento e o pensamento humanos. Busca saber como a experiência afeta o pensamento e a ação; explora os papéis da biologia e da hereditariedade; examina a consciência e os sonhos; acompanha como se dá a transformação de crianças em adultos; investiga as influências sociais. Basicamente, tenta explicar como as pessoas pensam, agem e sentem.
Pergunte a qualquer pessoa o que é aprendizagem e a resposta mais frequente terá algo a ver com aquisição de informação. Se eu lhe disser que aquele pássaro ali é um pintassilgo, e na próxima vez que você vir esse pássaro, identificá-lo corretamente como um pintassilgo, eu poderia concluir que você aprendeu algo. Perceba que seu comportamento mudou como resultado da experiência.
Os psicólogos buscam evidência da aprendizagem nas alterações que ocorrem no comportamento das pessoas, como resultado da experiência. Entretanto, nem todas as mudanças comportamentais são exemplos de aprendizagem. As mudanças de com-portamento que são resultado temporário de cansaço ou ingestão de drogas, por exemplo, não ilustram a aprendizagem. Da mesma maneira, as mudanças biologica-mente determinadas, como o crescimento ou a maturação sexual, ou as que resultam de lesão ou doença (especialmente no cérebro ou em outras partes do sistema nervoso) não são exemplos de aprendizagem.
Em suma, aprendizagem é definida como toda mudança relativamente per-manente no potencial de comportamento, que resulta da experiência, mas não é causada por cansaço, maturação, drogas, lesões ou doença. No sentido estrito, claro, a aprendizagem não é definida pelas mudanças reais ou potenciais no comportamento. Em vez disso, a aprendizagem é o que acontece ao organismo como resultado da experiência. As mudanças comportamentais são simplesmente evidências de que a aprendizagem ocorreu.
Note que a definição especifica mudanças no potencial para o comportamento, e não simplesmente mudanças no comportamento. Por quê? Porque os efeitos perma-nentes da experiência nem sempre são aparentes.
A tarefa principal dos psicólogos da aprendizagem é entender o comportamen-to e a mudança comportamental. Para entender algo tão complicado quanto o compor-tamento, os psicólogos precisam simplificar a fim de descobrir a regularidade e a pre-visibilidade e para inventar metáforas (comparações). O homem procura ordem onde não há nenhuma, disse Francis Bacon. Descobrir essa regularidade e tentar explicá-la é construir uma teoria. “Teorias são afirmações sistemáticas de princípios que explicam os fenômenos naturais”, afirmam Sommer e Sommer (2002, p. 3).
Os homens gostam de construir teorias, diz Stagner (1988). Anos atrás, eles urdiram teorias sobre as luzes no céu, sobre por que os bebês se parecem com os pais, sobre o formato da Terra. Geralmente essas teorias eram expressas em metáforas: o Sol é uma carruagem que atravessa os céus; sonhos são as aventuras da alma que anda em mundos paralelos enquanto o corpo dorme. As modernas teorias científicas também podem ser explicadas com metáforas e entendidas como tal: o coração é uma bomba; o cérebro, um computador; o olho, uma câmera.
Teoria científica é um conjunto de afirmações relacionadas, cuja princi-pal função é resumir e explicar as observações feitas. De uma maneira bem sim-ples, a construção de uma teoria funciona assim: os teóricos partem de certas hipóteses (crenças não comprovadas) sobre o comportamento humano, com base, talvez parcialmente, em suas observações sobre a regularidade e a previsi-bilidade do comportamento. Como resultado, desenvolvem explicações sobre o que observam, o que os leva a acreditar que certas relações existem – se isso, então aquilo. Essas afirmações se-então ou as previsões fundamentadas, são cha-madas de hipóteses. Isso posto, o teórico vai em busca de observações (dados) para testar a validade das hipóteses. Como lembra Sommer e Sommer (2002), é extremamente importante, na pesquisa científica, que as hipóteses possam ser testadas. Hipóteses não testáveis não têm lugar nas teorias científicas. As hipóte-ses fundamentadas em evidências permitem aos teóricos fazer generalizações – afirmações que resumem as relações e se tornam parte integrante da teoria. Algumas dessas afirmações podem tomar a forma de princípios; outras são expressas como leis; outras, ainda, acabam se tornando simples crenças.
Princípios são afirmações que se referem a alguma previsibilidade na natureza ou, mais importante para a psicologia, no comportamento. Os princípios da aprendizagem, por exemplo, descrevem fatores específicos que afetam a aprendizagem e a retenção. É fato que os pássaros procuram por comedouros no inverno; que os cachorros alimentados, acariciados ou elogiados logo aprendem a rolar; que as crianças recompensadas por terem estudado bastante, continuam a fazê-lo. Entretanto, nem todas as crianças estudam mais mesmo quando são elogiadas ou quando recebem notas altas; nem todos os cachorros aprendem espontaneamente a rolar no chão para receber um osso como recompensa; e alguns pássaros passam longe dos comedouros, no inverno. Por definição, os princípios são probabilísticos e incertos. Embora costumem representar conclusões consensuais, com base em provas sólidas, são provisórios e estão sujeitos a mudanças caso surjam novas evidências.
Isso não se aplica às leis. Leis são afirmações cuja exatidão está além da dúvida razoável. São conclusões baseadas no que parecem ser observações inegáveis e de lógica inquestionável. Ao contrário dos princípios, as leis, por definição, não admitem exceções e dúvidas. A afirmação E=mc² (Teoria da Relatividade de Einsten), por exemplo, é uma lei.
Crenças são afirmações de caráter mais privado e pessoal do que os princípios e as leis. Por exemplo, a ideia de que os ruivos são mais propensos à raiva do que as pessoas morenas é uma crença, não um princípio ou lei. As crenças se formam bem cedo na vida, destaca Pajares (1992), e nem sempre estão apoiadas em observações objetivas ou em uma lógica confiável. Por serem com frequência errôneas ou grosseiramente incorretas, as crenças pessoais podem ser muito perigosas na ciência.
Um aspecto que as teorias satisfazem é prover uma base para julgar a exatidão ou a utilidade das crenças. A função mais importante de uma teoria é simplificar e organizar as observações, e oferecer uma base para previsões. A utilidade de uma teoria na psicologia depende muito do quanto ela é capaz de prever.
Os teóricos podem, entretanto, ter ideias diametralmente opostas sobre o que é importante, de modo que um grande número de teorias emerge na mesma área de investigação. Embora sejam bem diferentes entre si, nenhuma é totalmente incor-reta, mas algumas podem ser mais úteis do que outras. Em última análise, uma teoria não pode ser avaliada em termos de certo ou errado. Deve, em vez disso, ser julgada, principalmente, por sua utilidade.
Uma das mais importantes tarefas da psicologia é determinar quais crenças a respeito do comportamento humano fazem sentido. Como a psicologia pode conseguir isso? A resposta pode ser dada numa única palavra: ciência.
Em certo sentido, ciência é o conjunto de informações relacionadas a um campo de estudo. A ciência da física, por exemplo, é o conjunto de informações relati-vas à natureza e às propriedades da matéria. A ciência da psicologia é o conjunto de informações relativas à natureza e às propriedades do pensamento e do comportamento humanos. A ciência é a mais poderosa ferramenta da psicologia para separar o fato da ficção.
A ciência insiste na objetividade, na precisão, na réplica; aceita como válidas apenas aquelas observações coletadas de forma a permitir que outros possam repeti-las em circunstâncias similares. Essa visão da ciência resulta num conjunto claro de métodos para coletar informação. Esses métodos, juntos, constituem o que se costuma denominar de método científico. O método científico pode ser resumido em cinco regras:
1. Fazer a pergunta.
2. Desenvolver uma hipótese.
3. Coletar observações relevantes.
4. Testar a hipótese.
5. Alcançar e compartilhar a conclusão.
As teorias da aprendizagem resultam das tentativas feitas pela psicologia de organizar observações, hipóteses, palpites, leis, princípios e conjecturas feitos acerca do comportamento humano. Não surpreendentemente, as primeiras teorias da aprendizagem eram, sob muitos aspectos, bem mais simples do que as desenvolvidas recentemente. Elas foram ganhando complexidade devido às novas descobertas e à constatação de que não eram abrangentes. Ainda assim, as primeiras teorias continuam a exercer forte influência sobre as teorias e a pesquisa contemporâneas.
Dentre as origens das teorias psicológicas contemporâneas, estão as primeiras tentativas dos psicólogos de explicar o comportamento como algo baseado nos instintos e na emoção. Os primeiros psicólogos – por exemplo, William James e Edward Bradford Titchener – confiavam profundamente na introspecção (exame dos próprios sentimentos e motivações, tomando-os como base para a gene-ralização) como um meio para descobrir aspectos sobre o comportamento e a aprendizagem humanos. Também o filósofo Descartes usou esse enfoque no seu esforço de entender a natureza humana.
O estabelecimento de um laboratório psicológico em Leipzig, na Alema-nha, por Wilhem Wundt, em 1879, é considerado, por muitos, o início da psico-logia como ciência. Embora Wundt e seus seguidores – tanto na Europa quanto na América do Norte – tenham continuado a lidar com conceitos mentais como consciência, sensação, sentimento, imaginação e percepção, tentaram, ao mesmo tempo, aplicar os métodos objetivos da ciência para estudá-los.
No início dos anos de 1900, os psicólogos (especialmente nos Estados Unidos) começaram a rejeitar temas difíceis e subjetivos como mente e pensamento, em vez disso escolheram concentrar-se nos aspectos mais objetivos do comportamento. Essa orientação ficou conhecida como behaviorismo e deu origem a teorias de aprendizagem envolvidas principalmente com eventos objetivos, como estímulos, respostas e recompensas. Os estímulos (condições que levam ao comportamento) e as respostas (comportamento corrente), argu-mentam os teóricos behavioristas, são os únicos aspectos do comportamento que podem ser observados; daí, que são as variáveis objetivas que podem ser usadas para desenvolver a ciência do comportamento. As teorias behavioristas incluem as de Pavlov, Watson e Guthrie; Thorndike e Hull; e Skinner. Outras teorias, as que compartilham muitas crenças dos behavioristas, mas usam mais conceitos biológicos ou mentais, servem como transição para a segunda maior linha de atuação teórica – o cognitivismo.
Os psicólogos cognitivos estão interessados na atividade mental huma-na, e especificamente em três dimensões dela: processamento de informação, representação e autoconsciência (Mandler, 1985). As teorias da Gestalt, com seu interesse na percepção e na consciência, são os primeiros exemplos importantes das teorias cognitivas. Outros exemplos incluem Bruner, Piaget e Vygotsky.

Os enfoques mais recentes sobre processamento de informação, evidenciado nos modelos computadorizados de pensamento, assim como as investigações atuais sobre memória e motivação, são indiscutivelmente cognitivos. A principal importância da distinção entre os enfoques behavioristas e cognitivos é que permite uma classificação simples das explicações da aprendizagem humana, o que facilita o entendimento, a lembrança e a aplicação das teorias da aprendizagem.

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