terça-feira, 20 de setembro de 2016

Aula 4 PPB - Estados de Consciência

ESTADOS DE CONSCIÊNCIA

Para a maioria dos psicólogos atuais, consciência é a percepção de nós mesmos e do ambiente à nossa volta. Ela envolve atenção seletiva, sensação e percepção. É estarmos cientes de nós mesmos.
Os neurocientistas cognitivos descobriram que a informação é frequentemente processada de maneira simultânea em vias separadas. Esse processamento dual afeta a percepção, a memória e as atitudes em dois níveis: um nível explícito e consciente, e um nível implícito e inconsciente.
O processamento de informações
inconsciente ocorre simultaneamente em múltiplas vias paralelas. É como funcionar no piloto automático, o que permite à consciência monitorar todo o sistema e lidar com novos desafios, enquanto vários assistentes cuidam automaticamente das questões rotineiras. Envolve áreas cerebrais como a amígdala, o córtex pré-frontal ventromedial, os gânglios basais e o córtex temporal lateral. É considerado mais antigo do ponto de vista evolutivo.
O processamento consciente é responsável pela nossa capacidade de pensamento abstrato descontextualizado. Embora seja mais lento, é hábil em solucionar novos problemas que requerem atenção focada. As áreas cerebrais relacionadas a este tipo de processamento são o córtex pré-frontal lateral, o lobo temporal medial e o córtex parietal lateral.
Por meio da atenção seletiva, nossa atenção consciente focaliza, como um feixe de luz, apenas um aspecto muito limitado de tudo aquilo que vivenciamos. No nível da percepção consciente, somos “cegos” a tudo exceto a um minúsculo fragmento da imensa gama de estímulos visuais constantemente à nossa frente. Neste contexto, bloqueamos a maior parte das informações presentes no ambiente e, algumas vezes, desviamos o foco de nossa atenção, alternadamente, de uma coisa para outra. Muitos acidentes de trânsito são consequências dos limites de nossa atenção.
Sono e Sonhos

Mesmo quando estamos em um sono profundo, nossa janela perceptiva não está completamente fechada. E quando estamos dormindo, assim como quando estamos acordados, processamos a maior parte das informações fora de nossa percepção consciente.
Como o oceano, a vida tem suas marés rítmicas. Nossos ritmos biológicos internos criam oscilações fisiológicas periódicas. O ciclo de 24 horas de ritmo circadiano regula nossa programação diária de sono e vigília. A luz da manhã ajusta o relógio circadiano ao ativar proteínas retinianas sensíveis à luz. Essas proteínas desencadeiam sinais para o núcleo supraquiasmático (NSQ) do cérebro, um par de aglomerados do tamanho de um grão de arroz contendo 20 mil células, localizado no hipotálamo. O NSQ realiza seu trabalho, em parte, fazendo a glândula pineal do cérebro diminuir a produção de melatonina, o hormônio indutor do sono pela manhã, ou aumentá-lo ao anoitecer.


Temos um ciclo de cinco estágios do sono em cerca de 90 minutos. Ao deixarmos as ondas alfa do estágio desperto e relaxado, descemos ao transicional fase 1 do sono, frequentemente com a sensação de queda ou de flutuação. A fase 2, na qual passamos a maior parte do tempo, vem cerca de 20 minutos depois, com seus característicos fusos de sono. Em seguida ocorrem as fases 3 e 4, que juntas duram aproximadamente 30 minutos, com extensas e lentas ondas delta. Revertendo o curso, refazemos a trilha, mas com uma diferença: cerca de uma hora após adormecermos, iniciamos períodos de sono REM (rapid eye movement ou movimentos rápidos dos olhos. A maioria dos sonhos ocorre nesta quinta fase de ativação interna, mas paralisia externa. Durante uma noite de sono normal, os períodos das fases 3 e 4 são encurtados e o REM é alongado.


A privação de sono causa fadiga e prejudica a concentração, a aprendizagem, a criatividade e a comunicação. Também pode gerar obesidade, hipertensão, supressão do sistema imunológico, irritabilidade e desempenho lentificado (com maior vulnerabilidade a acidentes).
O sono pode ter exercido um papel protetor na evolução humana ao manter as pessoas seguras em períodos potencialmente perigosos. Quando a escuridão interrompia a caça e a coleta de comida de nossos ancestrais distantes e tornava as viagens incertas, eles ficavam melhor dormindo em cavernas, longe do perigo. Ele também dá ao cérebro tempo para se curar, além de restaurar e reparar neurônios danificados. Além disso, é durante o sono que restauramos e reconstruímos memórias das experiências do dia. Uma boa noite de sono promove a resolução criativa de problemas no dia seguinte e, por fim, o sono favorece o crescimento: a hipófise secreta um hormônio do crescimento na fase 4 do sono.
Os principais distúrbios do sono são:
  • Insônia – vigília recorrente, problemas persistentes para adormecer ou continuar dormindo.
  • Narcolepsia – súbita e incontrolável sonolência que faz com que a pessoa durma. Os ataques geralmente duram menos de 5 minutos, mas podem ocorrer nos momentos mais inoportunos.
  • Apneia do sono – parada respiratória que ocorre durante o sono. Após cerca de um minuto sem ar, a baixa oxigenação do sangue deixa a pessoa agitada e ela desperta o suficiente para aspirar ar por alguns segundos, em um processo que se repete centenas de vezes a cada noite, privando-a do sono de ondas lentas.
  • Terrores noturnos – grande agitação e aparência de apavoramen-to, que podem fazer com que a pessoa sente-se na cama ou caminhe, fale de forma incoerente, tenha as frequências respiratória e cardíaca dobradas e aparente pavor. Tem como alvo principal as crianças, que raramente despertam durante um episódio e recordam pouca coisa ou nada na manhã seguinte.
  • Sonambulismo – distúrbio que se manifesta durante o estágio mais profundo do sono e caracteriza-se pela realização de atividades motoras sem a pessoa ter consciência plena do que está fazendo, uma vez que parte de suas funções cerebrais continua adorme-cida.
  • Sonilóquia – falar durante o sono.
Os sonhos que acontecem durante a fase REM são os mais vívidos, emocionais e bizarros. É muito comum o enredo de um sonho incorporar traços das experiências e preocupações do dia anterior. Existem cinco grandes visões da função dos sonhos:
  • Freudiana – prover uma válvula de escape, com conteúdo manifesto atuando como uma versão censurada do conteúdo latente (desejos inconscientes).
  • Processamento de informações – selecionar as experiências do dia e fixá-las na memória.
  • Estimulação cerebral – preservar as vias neurais do cérebro.
  • Ativação-síntese – para dar sentido à estática neural, o cérebro tenta tecer um enredo.
  • Amadurecimento do cérebro/desenvolvimento cognitivo – os sonhos representam o nível de desenvolvimento, conhecimento e compreensão do sonhador.

Hipnose

A hipnose é uma interação social na qual uma pessoa sugere a outra que certas percepções, sentimentos, pensamentos ou comportamentos ocorrerão espontaneamente. Pessoas hipnotizadas não são mais vulneráveis do que outras a agir contra a própria vontade, e a hipnose não realça a lembrança de eventos esquecidos (podendo até evocar memórias falsas). Sujeitos hipnotizados, como os não hipnotizados, podem cometer atos improváveis quando recebem ordens de uma pessoa autoritária.
Os estudiosos da hipnose concordam em que seu poder reside não no hipnotizador, mas na abertura que o hipnotizado dá à sugestão.
A hipnose pode ajudar a aliviar a dor. Algumas pessoas podem ser tão profundamente hipnotizadas que podem até ser submetidas a uma cirurgia sem anestesia.

Substâncias Psicoativas

Drogas psicoativas são substâncias químicas que agem principalmente no sistema nervoso central, mediante suas ações nas sinapses neurais, alterando a função cerebral e mudando, temporariamente, a percepção, o humor, o comportamento e a consciência.
Seu uso continuado produz tolerância (necessidade de doses cada vez maiores para se alcançar o mesmo efeito) e pode levar à dependência física e psicológica.









Adicção ou dependência é uma fissura compulsiva por uma substância a despeito das consequências adversas. Muitas vezes apresenta sintomas físicos como dores, náuseas e angústia.
Depressores são drogas como o álcool, os barbitúricos (tranquilizantes) e os opioides, que acalmam a atividade neural e desaceleram as funções corporais.
Engana-se quem acredita que o álcool em pequenas quantidades é estimulante. Doses baixas de álcool podem, de fato, animar quem bebe, mas o fazem desacelerando a atividade cerebral que controla o julgamento e as inibições. O álcool diminui nossas inibições, desacelera o processamento neural, interrompe a formação da memória e reduz a autoconsciência.
As drogas barbitúricas imitam os efeitos do álcool. Por deprimirem a atividade do sistema nervoso são, muitas vezes, prescritos para induzir o sono e reduzir a ansiedade. Em doses maiores podem levar ao prejuízo da memória e do julgamento, e até à morte. Se combinadas com álcool, o efeito depressivo total sobre as funções corporais pode ser letal.
Os opioides – o ópio e seus derivados, a morfina e a heroína – também deprimem o funcionamento neural. As pupilas contraem-se, a respiração torna-se mais lenta e a letargia se instaura à medida que um prazer regozijador substitui a dor e a ansiedade. Quando inundado repetidas vezes com um opioide artificial, o cérebro acaba parando de produzir os seus próprios, as endorfinas. Se o opioide artificial é abandonado, o cérebro sente falta desses neurotransmissores analgésicos. Se não for abandonado, a necessidade de doses cada vez maiores levam à morte por superdosagem (overdose).
Estimulantes, como a cafeína e a nicotina excitam, temporariamente, a atividade neural e incitam as funções corporais. Estas substâncias costumam ser usadas para se manter a vigília, perder peso, impulsionar o humor ou o desempenho físico.
A metanfetamina é uma droga com alto poder de adicção que estimula o sistema nervosos central, com aceleração das funções corporais. A droga desencadeia a liberação de dopamina, neurotransmissor que estimula as células cerebrais responsáveis por incrementar a energia e o humor, mas seu uso prolongado pode reduzir os níveis basais de dopamina.






















A cafeína é a substância psicoativa de consumo mais difundido no mundo. Além do café, ela também está presente em chás, refrigerantes, sucos de frutas, balas, bebidas energéticas, doces em barra, entre outros. Uma pequena dose de cafeína costuma durar três ou quatro horas e pode ser suficiente para prejudicar o sono, dependendo da hora que for ingerida. Como outras drogas, a cafeína usada com regularidade e em doses elevadas produz tolerância: seus efeitos estimulantes diminuem. E descontinuar o consumo excessivo, muitas vezes, produz sintomas de abstinência, incluindo fadiga e dor de cabeça.
A nicotina alcança o cérebro em 7 segundos, duas vezes mais rápido que a heroína intravenosa, e, em minutos, a quantidade no sangue dispara. Os adictos de nicotina acham muito difícil parar porque os produtos do tabaco são tão poderosos e rapidamente viciantes quanto a heroína e a cocaína. Os fumantes também desenvolvem tolerância e sofrem sintomas de abstinência como desejo intenso, insônia, ansiedade e irritabilidade.
O uso de cocaína oferece um caminho rápido da euforia ao desastre. Quando inalada, e especialmente quando injetada ou fumada (crack), essa droga entra rapida-mente na corrente sanguínea. O resultado é uma torrente de euforia que esvazia o estoque cerebral dos neurotransmissores dopamina, serotonina e norepinefrina. Em 15 a 30 minutos, segue-se um abalo depressivo à medida que o efeito da droga se esvai. Em situações que desencadeiam agressividade, ingerir cocaína pode elevar as reações. Seu uso também pode levar a distúrbios emocionais, desconfiança, convulsões, parada cardíaca ou insuficiência respiratória.
O ecstasy é tanto um estimulante como um alucinógeno brando. Como derivado da anfetamina, desencadeia a liberação de dopamina. Porém, seu principal efeito é a liberação da serotonina armazenada e o bloqueio de sua reabsorção, prolongando assim a enxurrada de bem-estar trazida pelo neurotransmissor. Cerca de meia hora após tomar um comprimido de ecstasy, o usuário entra em um período de três a quatro horas de sentimento de elevação emocional e conexão com as pessoas à volta (“Eu amo todo mundo”). Seu efeito desidratante, se combinado com dança prolongada, pode levar a um aquecimento excessivo, ao aumento da pressão sanguínea e à morte. Além disso, a repetida drenagem de serotonina do cérebro, em longo prazo, pode danificar os neurônios produtores desse neurotransmissor, levando à diminuição de sua fabricação e ao aumento de risco de humor depressivo permanente. A droga também suprime a ação do sistema imunológico, prejudica a memória e outras funções cognitivas, além de interrompe o sono, interferindo no controle do relógio circadiano.
Os alucinógenos distorcem as percepções e evocam imagens sensoriais mesmo na ausência de estímulos sensoriais (alucinações). Algumas, como o LSD e o ecstasy, são sintéticas. Outras, incluindo a levemente alucinógena maconha, são substâncias naturais.
O LSD e outros alucinógenos poderosos são quimicamente semelhantes a um subproduto do neurotransmissor serotonina, e, portanto, bloqueiam sua ação. As emoções de uma viagem de LSD variam da euforia ao pânico, passando pelo distanciamento. A experiência, em geral, começa com formas geométricas simples, como um entrelaçado, uma teia ou uma espiral. A fase seguinte consiste em imagens mais significativas: algumas podem ser sobrepostas a um túnel ou um funil, outras podem ser repetições de experiências emocionais passadas. À medida que a alucinação chega ao auge, a pessoa, muitas vezes, se sente separada de seu próprio corpo e experimenta cenas oníricas tão reais que pode ser tomada pelo pânico e/ou se machucar.
A maconha consiste nas folhas e flores do cânhamo. O fumo conduz a droga ao cérebro em 7 segundos, causando um efeito maior do que sua ingestão. Como o álcool, a maconha relaxa, desi-nibe e pode produzir euforia. Ela é, também, um alucinógeno leve, que amplifica a sensibilidade à cores, sons, sabores e odores. E, diferentemente do álcool, que o corpo elimina em questão de horas, os subprodutos da maconha podem perdurar no orga-nismo por um mês ou mais. Isso diminui os efeitos da tolerância, fazendo com que o usuário não necessite de doses cada vez maiores. A experiência trazida pela maconha pode variar de acordo com a situação e a pessoa que a utiliza. Ela tende a intensificar sentimentos como ansiedade e depres-são e, possivelmente, desencadear esquizofrenia. O uso diário pressagia um resultado pior do que o uso esporádico. Como o álcool, a maconha prejudica a coordenação motora, as habilidades perceptivas e o tempo de reação necessário para se operar, de maneira segura, um automóvel ou outra máquina. A exposição pré-natal pelo uso materno da droga, também prejudica o desenvolvimento cerebral do bebê. O uso excessivo e prolongado por adultos está associado à redução de áreas cerebrais que processam memórias e emoções.
O recente achado de receptores canabinóides levou a uma bem-sucedida caçada por moléculas análogas ao THC que sejam produzidas naturalmente e se liguem a eles. Essas moléculas podem controlar a dor de forma natural. O uso medicinal da maconha motivou a legislação de alguns estados americanos a disponibilizar a droga legalmente para propósitos médicos. Para evitar a toxicidade do fumo de maconha, que, assim como o do cigarro, pode causar problemas como o câncer, o Instituto de Medicina recomenda o uso de inaladores medicinais emitindo THC.
Fatores psicológicos (como o estresse, depressão e desesperança) e sociais (como pressão dos pares) combinam-se para levar muitas pessoas a experimentarem drogas, e, eventualmente, tornarem-se dependentes delas.
Algumas pessoas podem ser biologicamente mais propensas à dependência de drogas. Pesquisadores identificaram genes que são mais comuns entre pessoas predispostas ao alcoolismo e estão buscando genes que contribuam para a adicção de tabaco. Estudos sobre como as drogas reprogramam os sistemas de recompensa do cérebro trazem esperanças de drogas antiadicção que possam bloquear ou abrandar os efeitos do álcool e de outras drogas.
Cada tipo de influência (biológica, psicológica e sociocultural) oferece uma trilha possível para os programas de tratamento e prevenção às drogas.
* Dica de filme sobre o uso de drogas: Eu, Christiane F. – 13 anos, drogada e prostituída, disponível em

Experiências de Quase Morte

Experiência de quase morte é um estado alterado de consciência relatado após um contato próximo com a morte, como em decorrência de uma parada cardíaca, e que tem semelhança com as alucinações causadas por drogas.
Em estudos com pessoas que estiveram perto da morte devido a parada cardíaca ou a outros traumas físicos, de 12% a 40% recordaram uma experiência de quase morte, a qual costuma ser bem parecida com a experiência alucinógena: repetição de memórias antigas, sensações extracorpóreas, visões de túneis e de luzes brilhantes, ou de seres de luz. Crianças também apresentaram estas experiências após perda de respiração ou de pulso por mais de 30 segundos. E em todo o mundo, algumas das pessoas que estiveram perto da morte relataram visões de outro mundo, embora seu conteúdo mude dependendo da cultura do sujeito.
O estímulo de certa área do lobo temporal, assim como a privação de oxigênio, pode produzir alucinações semelhantes às relatadas nas experiências de quase morte. Como a privação de oxigênio desliga as células inibitórias do cérebro, a atividade neural cresce no córtex cerebral. O resultado, no cérebro faminto por oxigênio, é uma crescente mancha luminosa.


MYERS, D.; Psicologia. Rio de Janeiro:LTC, 2012. Cap. 3

Nenhum comentário:

Postar um comentário