ESTADOS
DE CONSCIÊNCIA
Para
a maioria dos psicólogos atuais, consciência
é a percepção de nós mesmos e do ambiente à nossa volta. Ela
envolve atenção seletiva, sensação e percepção. É estarmos
cientes de nós mesmos.
Os
neurocientistas cognitivos descobriram que a informação é
frequentemente processada de maneira simultânea em vias separadas.
Esse processamento
dual afeta
a percepção, a memória e as atitudes em dois níveis: um nível
explícito e consciente, e um nível implícito e inconsciente.
inconsciente
ocorre simultaneamente em múltiplas vias paralelas. É como
funcionar no piloto automático, o que permite à consciência
monitorar todo o sistema e lidar com novos desafios, enquanto vários
assistentes cuidam automaticamente das questões rotineiras. Envolve
áreas cerebrais como a amígdala, o córtex pré-frontal
ventromedial, os gânglios basais e o córtex temporal lateral. É
considerado mais antigo do ponto de vista evolutivo.
O
processamento consciente
é
responsável pela nossa capacidade de pensamento abstrato
descontextualizado. Embora seja mais lento, é hábil em solucionar
novos problemas que requerem atenção focada. As áreas cerebrais
relacionadas a este tipo de processamento são o córtex pré-frontal
lateral, o lobo temporal medial e o córtex parietal lateral.
Por
meio da atenção
seletiva, nossa
atenção consciente focaliza, como um feixe de luz, apenas um
aspecto muito limitado de tudo aquilo que vivenciamos. No nível da
percepção consciente, somos “cegos” a tudo exceto a um
minúsculo fragmento da imensa gama de estímulos visuais
constantemente à nossa frente. Neste contexto, bloqueamos a maior
parte das informações presentes no ambiente e, algumas vezes,
desviamos o foco de nossa atenção, alternadamente, de uma coisa
para outra. Muitos acidentes de trânsito são consequências dos
limites de nossa atenção.
Sono
e Sonhos
Mesmo
quando estamos em um sono profundo, nossa janela perceptiva não está
completamente fechada. E quando estamos dormindo, assim como quando
estamos acordados, processamos a maior parte das informações fora
de nossa percepção consciente.
Como
o oceano, a vida tem suas marés rítmicas. Nossos ritmos biológicos
internos criam oscilações fisiológicas periódicas. O ciclo de 24
horas de ritmo
circadiano regula
nossa programação diária de sono e vigília. A luz da manhã
ajusta o relógio
circadiano
ao ativar proteínas retinianas sensíveis à luz. Essas proteínas
desencadeiam sinais para o núcleo supraquiasmático (NSQ) do
cérebro, um par de aglomerados do tamanho de um grão de arroz
contendo 20 mil células, localizado no hipotálamo. O NSQ realiza
seu trabalho, em parte, fazendo a glândula pineal do cérebro
diminuir a produção de melatonina, o hormônio indutor do sono pela
manhã, ou aumentá-lo ao anoitecer.
Temos
um ciclo de cinco
estágios do sono em
cerca de 90
minutos.
Ao deixarmos as ondas
alfa
do estágio desperto e relaxado, descemos ao transicional fase
1
do sono, frequentemente com a sensação de queda ou de flutuação.
A fase
2,
na qual passamos a maior parte do tempo, vem cerca de 20 minutos
depois, com seus característicos fusos de sono. Em seguida ocorrem
as fases 3 e 4, que juntas duram aproximadamente 30 minutos, com
extensas e lentas ondas
delta. Revertendo
o curso, refazemos a trilha, mas com uma diferença: cerca de uma
hora após adormecermos, iniciamos períodos de sono
REM
(rapid
eye movement ou
movimentos rápidos dos olhos.
A
maioria dos sonhos ocorre nesta quinta fase de ativação interna,
mas paralisia externa. Durante uma noite de sono normal, os períodos
das fases 3 e 4 são encurtados e o REM é alongado.
A
privação
de sono causa
fadiga e prejudica a concentração, a aprendizagem, a criatividade e
a comunicação. Também pode gerar obesidade, hipertensão,
supressão do sistema imunológico, irritabilidade e desempenho
lentificado (com maior vulnerabilidade a acidentes).
Os
principais distúrbios do sono são:
-
Insônia – vigília recorrente, problemas persistentes para adormecer ou continuar dormindo.
-
Narcolepsia – súbita e incontrolável sonolência que faz com que a pessoa durma. Os ataques geralmente duram menos de 5 minutos, mas podem ocorrer nos momentos mais inoportunos.
-
Apneia do sono – parada respiratória que ocorre durante o sono. Após cerca de um minuto sem ar, a baixa oxigenação do sangue deixa a pessoa agitada e ela desperta o suficiente para aspirar ar por alguns segundos, em um processo que se repete centenas de vezes a cada noite, privando-a do sono de ondas lentas.
-
Terrores noturnos – grande agitação e aparência de apavoramen-to, que podem fazer com que a pessoa sente-se na cama ou caminhe, fale de forma incoerente, tenha as frequências respiratória e cardíaca dobradas e aparente pavor. Tem como alvo principal as crianças, que raramente despertam durante um episódio e recordam pouca coisa ou nada na manhã seguinte.
-
Sonambulismo – distúrbio que se manifesta durante o estágio mais profundo do sono e caracteriza-se pela realização de atividades motoras sem a pessoa ter consciência plena do que está fazendo, uma vez que parte de suas funções cerebrais continua adorme-cida.
-
Sonilóquia – falar durante o sono.
Os
sonhos que acontecem durante a fase REM são os mais vívidos,
emocionais e bizarros. É muito comum o enredo de um sonho incorporar
traços das experiências e preocupações do dia anterior. Existem
cinco grandes visões da função dos sonhos:
-
Freudiana – prover uma válvula de escape, com conteúdo manifesto atuando como uma versão censurada do conteúdo latente (desejos inconscientes).
-
Processamento de informações – selecionar as experiências do dia e fixá-las na memória.
-
Estimulação cerebral – preservar as vias neurais do cérebro.
-
Ativação-síntese – para dar sentido à estática neural, o cérebro tenta tecer um enredo.
-
Amadurecimento do cérebro/desenvolvimento cognitivo – os sonhos representam o nível de desenvolvimento, conhecimento e compreensão do sonhador.
Hipnose
A
hipnose é
uma interação social na qual uma pessoa sugere a outra que certas
percepções, sentimentos, pensamentos ou comportamentos ocorrerão
espontaneamente. Pessoas hipnotizadas não são mais vulneráveis do
que outras a agir contra a própria vontade, e a hipnose não realça
a lembrança de eventos esquecidos (podendo até evocar memórias
falsas). Sujeitos hipnotizados, como os não hipnotizados, podem
cometer atos improváveis quando recebem ordens de uma pessoa
autoritária.
Os
estudiosos da hipnose concordam em que seu poder reside não no
hipnotizador, mas na abertura que o hipnotizado dá à sugestão.
A
hipnose pode ajudar a aliviar a dor. Algumas pessoas podem ser tão
profundamente hipnotizadas que podem até ser submetidas a uma
cirurgia sem anestesia.
Substâncias
Psicoativas
Drogas
psicoativas são
substâncias químicas que agem principalmente no sistema nervoso
central, mediante suas ações nas sinapses neurais, alterando a
função cerebral e mudando, temporariamente, a percepção, o humor,
o comportamento e a consciência.
Seu
uso continuado produz
tolerância (necessidade
de doses cada vez maiores para se alcançar o mesmo efeito) e pode
levar à dependência física e psicológica.
Depressores
são
drogas como o álcool, os barbitúricos (tranquilizantes) e os
opioides, que acalmam a atividade neural e desaceleram as funções
corporais.
Engana-se
quem acredita que o álcool
em pequenas quantidades é estimulante. Doses baixas de álcool
podem, de fato, animar quem bebe, mas o fazem desacelerando a
atividade cerebral que controla o julgamento e as inibições. O
álcool diminui nossas inibições, desacelera o processamento
neural, interrompe a formação da memória e reduz a
autoconsciência.
As
drogas barbitúricas
imitam
os efeitos do álcool. Por deprimirem a atividade do sistema nervoso
são, muitas vezes, prescritos para induzir o sono e reduzir a
ansiedade. Em doses maiores podem levar ao prejuízo da memória e do
julgamento, e até à morte. Se combinadas com álcool, o efeito
depressivo total sobre as funções corporais pode ser letal.
Os
opioides
–
o ópio e seus derivados, a morfina e a heroína – também deprimem
o funcionamento neural. As pupilas contraem-se, a respiração
torna-se mais lenta e a letargia se instaura à medida que um prazer
regozijador substitui a dor e a ansiedade. Quando inundado repetidas
vezes com um opioide artificial, o cérebro acaba parando de produzir
os seus próprios, as endorfinas. Se o opioide artificial é
abandonado, o cérebro sente falta desses neurotransmissores
analgésicos. Se não for abandonado, a necessidade de doses cada vez
maiores levam à morte por superdosagem (overdose).
Estimulantes,
como
a cafeína e a nicotina excitam, temporariamente, a atividade neural
e incitam as funções corporais. Estas substâncias costumam ser
usadas para se manter a vigília, perder peso, impulsionar o humor ou
o desempenho físico.
A
metanfetamina
é
uma droga com alto poder de adicção que estimula o sistema nervosos
central, com aceleração das funções corporais. A droga
desencadeia a liberação de dopamina, neurotransmissor que estimula
as células cerebrais responsáveis por incrementar a energia e o
humor, mas seu uso prolongado pode reduzir os níveis basais de
dopamina.
A
cafeína
é
a substância psicoativa de consumo mais difundido no mundo. Além do
café, ela também está presente em chás, refrigerantes, sucos de
frutas, balas, bebidas energéticas, doces em barra, entre outros.
Uma pequena dose de cafeína costuma durar três ou quatro horas e
pode ser suficiente para prejudicar o sono, dependendo da hora que
for ingerida. Como outras drogas, a cafeína usada com regularidade e
em doses elevadas produz tolerância: seus efeitos estimulantes
diminuem. E descontinuar o consumo excessivo, muitas vezes, produz
sintomas de abstinência,
incluindo fadiga e dor de cabeça.
A
nicotina
alcança
o cérebro em 7 segundos, duas vezes mais rápido que a heroína
intravenosa, e, em minutos, a quantidade no sangue dispara. Os
adictos de nicotina
acham
muito difícil parar porque os produtos do tabaco são tão poderosos
e rapidamente viciantes quanto a heroína e a cocaína. Os fumantes
também desenvolvem tolerância e sofrem sintomas de abstinência
como desejo intenso, insônia, ansiedade e irritabilidade.
O
uso de cocaína
oferece
um caminho rápido da euforia ao desastre. Quando inalada, e
especialmente quando injetada ou fumada (crack), essa droga entra
rapida-mente na corrente sanguínea. O resultado é uma torrente de
euforia que esvazia o estoque cerebral dos neurotransmissores
dopamina, serotonina e norepinefrina. Em 15 a 30 minutos, segue-se um
abalo depressivo à medida que o efeito da droga se esvai. Em
situações que desencadeiam agressividade, ingerir cocaína pode
elevar as reações. Seu uso também pode levar a distúrbios
emocionais, desconfiança, convulsões, parada cardíaca ou
insuficiência respiratória.
O
ecstasy
é
tanto um estimulante como um alucinógeno brando. Como derivado da
anfetamina, desencadeia a liberação de dopamina. Porém, seu
principal efeito é a liberação da serotonina armazenada e o
bloqueio de sua reabsorção, prolongando assim a enxurrada de
bem-estar trazida pelo neurotransmissor. Cerca de meia hora após
tomar um comprimido de ecstasy, o usuário entra em um período de
três a quatro horas de sentimento de elevação emocional e conexão
com as pessoas à volta (“Eu amo todo mundo”). Seu efeito
desidratante, se combinado com dança prolongada, pode levar a um
aquecimento excessivo, ao aumento da pressão sanguínea e à morte.
Além disso, a repetida drenagem de serotonina do cérebro, em longo
prazo, pode danificar os neurônios produtores desse
neurotransmissor, levando à diminuição de sua fabricação e ao
aumento de risco de humor depressivo permanente. A droga também
suprime a ação do sistema imunológico, prejudica a memória e
outras funções cognitivas, além de interrompe o sono, interferindo
no controle do relógio circadiano.
Os
alucinógenos
distorcem as percepções e evocam imagens sensoriais mesmo na
ausência de estímulos sensoriais (alucinações). Algumas, como o
LSD e o ecstasy, são sintéticas. Outras, incluindo a levemente
alucinógena maconha, são substâncias naturais.
O
LSD
e
outros alucinógenos poderosos são quimicamente semelhantes a um
subproduto do neurotransmissor serotonina, e, portanto, bloqueiam sua
ação. As emoções de uma viagem de LSD variam da euforia ao
pânico, passando pelo distanciamento. A experiência, em geral,
começa com formas geométricas simples, como um entrelaçado, uma
teia ou uma espiral. A fase seguinte consiste em imagens mais
significativas: algumas podem ser sobrepostas a um túnel ou um
funil, outras podem ser repetições de experiências emocionais
passadas. À medida que a alucinação chega ao auge, a pessoa,
muitas vezes, se sente separada de seu próprio corpo e experimenta
cenas oníricas tão reais que pode ser tomada pelo pânico e/ou se
machucar.
O
recente achado de receptores canabinóides levou a uma bem-sucedida
caçada por moléculas análogas ao THC que sejam produzidas
naturalmente e se liguem a eles. Essas moléculas podem controlar a
dor de forma natural. O uso medicinal da maconha motivou a legislação
de alguns estados americanos a disponibilizar a droga legalmente para
propósitos médicos. Para evitar a toxicidade do fumo de maconha,
que, assim como o do cigarro, pode causar problemas como o câncer, o
Instituto de Medicina recomenda o uso de inaladores medicinais
emitindo THC.
Fatores
psicológicos (como o estresse, depressão e desesperança) e sociais
(como pressão dos pares) combinam-se para levar muitas pessoas a
experimentarem drogas, e, eventualmente, tornarem-se dependentes
delas.
Algumas
pessoas podem ser biologicamente mais propensas à dependência de
drogas. Pesquisadores identificaram genes que são mais comuns entre
pessoas predispostas ao alcoolismo e estão buscando genes que
contribuam para a adicção de tabaco. Estudos sobre como as drogas
reprogramam os sistemas de recompensa do cérebro trazem esperanças
de drogas antiadicção que possam bloquear ou abrandar os efeitos do
álcool e de outras drogas.
Cada
tipo de influência (biológica, psicológica e sociocultural)
oferece uma trilha possível para os programas de tratamento e
prevenção às drogas.
*
Dica de filme sobre o uso de drogas: Eu, Christiane F. – 13 anos,
drogada e prostituída, disponível em
Experiências
de Quase Morte
Em
estudos com pessoas que estiveram perto da morte devido a parada
cardíaca ou a outros traumas físicos, de 12% a 40% recordaram uma
experiência de quase morte, a qual costuma ser bem parecida com a
experiência alucinógena: repetição de memórias antigas,
sensações extracorpóreas, visões de túneis e de luzes
brilhantes, ou de seres de luz. Crianças também apresentaram estas
experiências após perda de respiração ou de pulso por mais de 30
segundos. E em todo o mundo, algumas das pessoas que estiveram perto
da morte relataram visões de outro mundo, embora seu conteúdo mude
dependendo da cultura do sujeito.
O
estímulo de certa área do lobo temporal, assim como a privação de
oxigênio, pode produzir alucinações semelhantes às relatadas nas
experiências de quase morte. Como a privação de oxigênio desliga
as células inibitórias do cérebro, a atividade neural cresce no
córtex cerebral. O resultado, no cérebro faminto por oxigênio, é
uma crescente mancha luminosa.
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