MEMÓRIA
Para
um psicólogo, a memória
é
a aprendizagem que persiste através do tempo, informações que
foram armazenadas e que podem ser recuperadas.
Fatos
interessantes ocorrem conosco em relação à memória. Lembramos de
coisas sobre as quais não pensamos há anos, e esquecemos o nome de
alguém à quem fomos apresentados há um minuto.
Os
pesquisadores da memória contemporâneos observam que também
registramos algumas informações automaticamente, ignorando as duas
primeiras fases. Eles preferem o termo memória
de trabalho, em
vez de memória de curto prazo, para enfatizar o processamento ativo
na segunda fase.
Codificação
O
processamento
automático acontece
inconscientemente ao absorvermos informações (espaço, tempo,
frequência, matérias bem aprendidas) em nosso meio.
O
processamento
empenhado requer
uma atenção consciente e esforço deliberado. Muito experimentos
realizados ao longo do último século revelaram as vantagens de se
espaçar a aprendizagem ao longo do tempo. O efeito
de espaçamento é
a nossa tendência de reter informações mais facilmente se
distribuirmos o estudo ou a prática em vez de durante uma única
longa sessão. Outro fenômeno, o efeito
de posição serial, ilustra
nossa tendência de lembrar mais facilmente do primeiro e do último
item de uma lista longa, e não dos itens intermediários.
A
codificação visual (de
imagens) e a codificação
acústica (de
sons) ativam processos mais superficiais do que a codificação
semântica (dos
significados). Processamos melhor as informações verbais quando as
tornamos relevantes (significativas) para nós. Não lembramos das
coisas exatamente como elas aconteceram, mas como as codificamos
(como fizeram sentido para nós). A codificação de imagens também
auxilia a memória, pois as imagens vívidas são memoráveis.
Agrupar e estabelecer hierarquias ajuda a organizar as informações
para que sejam recuperadas mais facilmente.
Armazenamento
É
a retenção do material codificado que fica armazenado na nossa
memória de longo prazo e se mantém adormecido, esperando ser
despertado por algum estímulo. O armazenamento de memória dá-se de
três maneiras: memória
sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo.
Memória sensorial
corresponde
ao armazenamento de informações de todo tipo que chegam até os
nossos sentidos. Podem ser estímulos visuais, auditivos, tácteis,
olfativos, gustativos e proprioceptivos. Uma vez processadas, as
informações são transferidas para a memória de curto prazo. O
traço de memória sensorial permanecerá no sistema se receber
atenção e interpretação. Acredita-se que existe um estoque de
memória sensorial separado para cada sistema sensorial, embora
somente os da visão (memória
icônica)
e os da audição
(memória
ecoica).
Quando
a informação é julgada importante, nós a movemos da memória
sensorial para nossa memória
de curto prazo.
Através
da memória de
curto prazo, a
maioria dos seres humanos pode lidar com aproximadamente 7
informações durante uns 30 segundos. Podemos estender esse período
“ensaiando” a informação, repetindo os pensamentos em nossa
mente, o que ajuda a movê-la para a memória de lingo prazo. Sem
reiteração, a informação desaparece da memória de curto prazo em
segundos.
A
memória de
longo prazo está
envolvida quando a informação precisa ser retida por intervalos tão
curtos quanto alguns minutos (por exemplo, numa conversa) ou durante
uma vida inteira (como memórias de infância). Uma metáfora comum é
que a memória de longo prazo é a biblioteca do cérebro. E, como
uma biblioteca tradicional, a informação na memória de longo prazo
é classificada, arquivada e indexada de várias formas. O sistema de
catalogação do longo prazo do nosso cérebro é composto por três
componentes chave:
-
Memória semântica: cuida de formular nossas ideias, significados e conceitos.
-
Memória processual: ajuda-nos a lembrar como fazer as coisas.
-
Memória episódica: refere-se à nossa habilidade de resgatar experiências pessoais do nosso passado.
Recuperação
Recordar
é a habilidade de recuperar informações que não estão
prontamente disponíveis conscientemente. Pistas de recuperação
despertam
nossa atenção e acionam nossa rede de associações, ajudando a
deslocar para a consciência as informações para as quais as pistas
apontam.
O contexto em que originalmente
passamos por uma experiência ou evento, ou em que codificamos um
pensamento, pode inundar nossas lembranças com pistas de
recuperação, conduzindo-nos à memória-alvo.
A memória é parcialmente
dependente do estado interno predominante durante a aprendizagem,
porém, palavras, eventos e contextos associados não são as únicas
pistas de
recuperação. Eventos do passado podem ter provocado uma emoção,
específica que mais tarde nos desperta para as lembranças dos
eventos associados a ela. Portanto, experiências emocionais fortes
criam memórias fortes e confiáveis. Entretanto, a recuperação de
lembranças pode ser prejudicada pelo estresse excessivo e/ou
prolongado.
Esquecimento
Muitos
casos de esquecimento da memória de longo prazo resultam da perda de
acesso à informação e não da perda da informação propriamente
dita. Ou seja, uma memória fraca muitas vezes reflete uma falha de
recuperação ao invés de uma falha de armazenamento.
Podemos
enfrentar erros de recuperação, quando materiais novos ou antigos
entram em disputa, quando não temos pistas de recuperação
adequadas ou possivelmente, em raras situações, devido ao
esquecimento motivado, ou recalque.
Na
interferência
proativa, alguma
coisa aprendida no passado interfere com a nossa capacidade de
lembrar de algo recém-aprendido.
Na
interferência
retroativa, alguma
coisa aprendida recentemente interfere com algo aprendido no passado.
O
pesquisador da memória Daniel Schacter enumera sete sete formas de
fracasso de nossa memória:
-
Distração: quando falta de atenção aos detalhes produz falhas na codificação.
-
Transitoriedade: quando o armazenamento declina com o tempo, ou seja, as informações não utilizadas desaparecem.
-
Bloqueio: é a inacessibilidade às informações armazenadas, como quando temos um nome na ponta da língua, mas não conseguimos lembrá-lo.
-
Atribuição errônea: confundir a fonte das informações, como lembrar de um sonho como se fosse um acontecimento da vida real.
-
Sugestionabilidade: são os efeitos remanescentes de informações equivocadas, como quando uma insinuação torna-se uma falsa memória.
-
Tendenciosidade: lembranças alteradas pela crença, como quando os sentimentos atuais por um amigo podem alterar as recordações dos reais sentimentos iniciais pela pessoa.
-
Persistência: memórias indesejadas como ser assombrado por imagens de experiências traumáticas anteriores.
Construção
da memória
Se
crianças ou adultos são sutilmente expostos à informação
enganosa após um evento, ou se imaginam repetidamente e reiteram um
evento que nunca ocorreu na realidade, podem incorporar em suas
memórias detalhes enganosos sobre o que aconteceu de fato. Falsas
memórias são percebidas como memórias verdadeiras e são
igualmente duráveis. As memórias construídas geralmente se limitam
à essência do evento.
Em
vários experimentos de acompanhamento ao redor do mundo, pessoas
testemunham eventos, recebem ou não informações truncadas sobre
eles e, por fim, respondem a testes de memória. O resultado que se
repete é o efeito
da informação enganosa: após
serem expostas a informações ligeiramente imprecisas, muitas
pessoas têm lembranças errôneas.
Tão
engenhoso é o efeito da informação enganosa que as pessoas,
passado um tempo, acham praticamente impossível diferenciar entre
lembranças reais e eventos sugeridos. Eventos imaginários mais
tarde soam como familiares, e coisas familiares parecem mais reais.
Assim, quanto mais intensamente as pessoas imaginarem os eventos,
mais propensas estarão a transformar a imaginação em memória.
Aprimoramento
da memória
Tendo
considerado os fundamentos da memória de operação e da memória de
longo prazo, abordaremos agora a questão de como a memória pode ser
melhorada. A pesquisa sobre memória sugere estratégias concretas
para melhorar seu desempenho, sendo elas:
-
Estude repetidamente: para dominar a matéria, pratique de maneira espaçada, ou seja, ao longo de várias sessões separadas, aproveitando os pequenos intervalos do dia. Para memorizar fatos, nomes ou números específicos, repetir o dado algumas vezes, esperar alguns segundos, repetir o dado novamente, esperar mais alguns segundos. O intervalo deve ir aumentando progressivamente. Novas memórias são fracas, exercite-as e elas se fortalecerão. A leitura apressada (superficial) de um material complexo proporciona pouca retenção. Reiteração e a reflexão crítica ajudam bem mais.
-
Torne o material significativo: para construir uma rede de pistas de recuperação, faça anotações de aula e do texto com suas próprias palavras. A repetição sem sentido de palavras é relativamente ineficaz. Aplique os conceitos à sua própria vida, forme imagens, compreenda e organize as informações, estabeleça relações entre a matéria que você está estudando e outras coisas que você já sabe ou já experimentou e coloque tudo em suas próprias palavras.
-
Ative pistas de recuperação: recrie mentalmente a situação e o humor em que o aprendizado original ocorreu. Volte ao mesmo local. Estimule a memória permitindo que um pensamento leve a outro.
-
Use dispositivos mnemônicos: associe itens a palavras-chave. Crie uma história que incorpore imagens vívidas dos itens. Crie rimas ritmadas.
-
Minimize as interferências: estude antes de dormir. Não programe sessões seguidas de estudos de tópicos que possam interferir uns com os outros, como estudar espanhol e depois francês.
-
Durma mais: durante o sono, o cérebro organiza e consolida as informações da memória de longo prazo. A falta de sono interfere nesse processo.
-
Teste seu conhecimento, para ensaiá-lo e para identificar o que ainda não sabe: teste sua memória usando palavras-chave. Organize as sessões em tópicos em uma página em branco. Faça testes práticos.
MYERS,
D.; Psicologia. Rio de Janeiro:LTC, 2012. Cap. 8
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