quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PPB Aula 4 Motivação

MOTIVAÇÃO

Eles podem porque pensam que podem.
(Virgílio in Eneida, 19 a.C.)

Motivação é uma condição vivenciada que orienta e energiza uma pessoa, mobilizando-a a um comportamento ou ação específica. A palavra motivação tem raiz latina que significa “o que põe em movimento”, ou seja, o que impulsiona a ação.
Ao longo do tempo, os psicólogos tentaram entender os comportamentos motivados através perspectivas diferentes.
A perspectiva evolucionista do instinto explora as influências genéticas sobre comportamentos. Ela supõe que os genes predispõem o comportamento típico da espécie. Para se qualificar como instintivo, um comportamento deve apresentar um padrão fixo em uma espécie inteira e não ser aprendido. Por exemplo: a sucção nos recém-nascidos.
A teoria da redução do drive explora como uma necessidade fisiológica cria um estado de excitação (drive ou impulso) que nos impulsionam a satisfazer tais necessidades. A finalidade fisiológica da redução do drive é a homeostase (a manutenção de um estado interno estável). Exemplo: comer diante da fome, beber diante da sede.
A teoria da excitação propõe que, com todas as nossas necessidades biológicas atendidas, nos sentimos impulsionados a experimentar estímulos e ficamos ávidos por informações. Temos como exemplo desta teoria a curiosidade. É a curiosidade que impulsiona um bebê de 9 meses a investigar o que há dentro do buraco de uma tomada.
Abraham Maslow descreveu a hierarquia de necessidades humanas, frequentemente representada por uma pirâmide. Segundo esta teoria, algumas necessidades têm prioridade sobre outras. Neste momento, com nossas necessidades de ar e de água satisfeitas, outros motivos (como o desejo de realizar algo) energizam e direcionam nosso comportamento. Se deixarmos nossa necessidade de água ficar insatisfeita, nossa sede irá preocupar-nos. Mas, se ficarmos privados de ar, nossa sede desaparecerá. A pirâmide das necessidades de Maslow divide-se em dois sistemas principais de necessidades: as básicas (fisiológicas, de segurança, de amor e estima) e as metanessecidades (desejo de crescer, conquistar, vir a ser).
Quando sentimos fome, sede, fadiga ou excitação sexual, nada mais parece importar. Mas quando satisfeitos, a sensação é que comida, água, sono e sexo, simplesmente, não têm mais tanta importância para a vida, agora ou no futuro.

Fome

As pontadas de fome são as contrações do estômago, mas a fome ta mbém tem outras causas. Os hormônios do apetite incluem insulina (que controla a glicose no sangue), a leptina (secretada pelas células adiposas), a orexina (secretada pelo hipotálamo), a grelina (secretada pelo estômago vazio), a obestatina (secretada pelo estômago) e o PPY (secretado pelo trato digestório). Duas áreas do hipotálamo regulam o peso corporal afetando os sentimentos de fome e de saciedade. O corpo pode ter um ponto de acomodação equilibrado (uma tendência fixada biologicamente para manter o peso ideal) ou um ponto de acomodação mais flexível (influenciado pelo ambiente).
A fome é desencadeada pelo nosso estado fisiológico, química do corpo e atividade hipotalâmica, mas também pela lembrança da última refeição. À medida que o tempo passa desde a última refeição, nós antecipamos a necessidade de comer novamente e começamos a sentir fome.
Nossas preferências por sabores doces e salgados são genéticas e universais. As demais preferências de sabor são condicionadas e estão atreladas à cultura: por exemplo, americanos e europeus não costumam comer carne de cachorro, rato e cavalo. Algumas preferências de paladar, como evitar novas comidas ou outras que nos fizeram mal no passado, têm valor de sobrevivência.
Nossos corpos são naturalmente dispostos a manter um peso normal, incluindo reservas de energia para os períodos em que a comida é escassa. Apesar disso, as influências psicológicas, algumas vezes, impõem-se sobre a biologia. Isso se torna claro através dos transtornos alimentares.
A anorexia nervosa caracteriza-se por levar a pessoa a emagrecer, no mínimo, 15% abaixo de seu peso normal. As pessoas com este transtorno costumam ser, na maioria das vezes, adolescentes do sexo feminino. Ainda assim se sentem gordas, temem ganhar peso e ficam obcecadas por emagrecer. Dentre as causas da anorexia nervosa estão hereditariedade, problemas com autoimagem, dismorfia (preocupação com um defeito imaginário), dificuldade em ser aceito pelos pares, bullying, e dificuldade em lidar com a sexualidade genital emergente. Algumas das consequências da anorexia nervosa são: amenorreia (ausência de menstruação), infertilidade, diminuição ou ausência da libido, má formação do esqueleto, descalcificação dos dentes, depressão profunda, tendências suicidas, obstipação grave, arritmia cardíaca, bulimia.
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar, no qual a pessoa ingere muita comida em pouco tempo e, então, busca prevenir o ganho de peso ao tentar se livrar do que comeu vomitando, tomando laxantes ou diuréticos. A pessoa com bulimia nervosa sente que não consegue controlar a quantidade de alimentos que come, costuma ter peso normal e pode praticar exercícios físicos em excesso. Dentre as causas desse transtorno estão fatores genéticos, transtornos de ansiedade, alcoolismo, toxicodependência, estresse, pressão cultural, falta de autoestima e histórico de anorexia. É difícil chegar ao diagnóstico dentre transtorno, já que as pessoas acometidas por ele tendem a ser muito reservadas em relação aos seus hábitos. Algumas das consequências deste transtorno são: problemas nos dentes e gengivas, desidratação, fadiga, ressecamento da pele, irregularidade na menstruação, obstipação, depressão.

Nosso corpo armazena gordura por bons motivos. A gordura é uma forma perfeita de armazenar energia, uma reserva de combustível altamente calórico para sustentar o corpo em períodos de escassez de comida, uma situação comum na existência de nossos ancestrais pré-históricos, em que a abundância e a fome se alternavam regularmente. Porém, em partes do mundo onde a comida e os doces se tornaram abundantes, a regra que antes guiava nossos distantes ancestrais, de comer todo alimento rico em energia que encontrar, tornou-se disfuncional.
Segundo uma estimativa da OMS feita em 2007, mais de 1 bilhão de pessoas, ao redor do mundo, estão acima do peso, e 300 milhões delas são clinicamente obesas.
A obesidade significa aumento de risco de diabetes, pressão alta, doenças cardíacas, cálculos biliares, artrite e certos tipos de câncer.
Na aritmética do ganho de peso, as pessoas engordam ao consumir mais calorias do que gastam, porém esta conclusão é falsa. Os determinantes imediatos da gordura corporal são o tamanho e o número de células adiposas. Um adulto típico tem de 30 a 40 bilhões delas, que costumam localizar-se próximas à superfície da pele. Uma célula adiposa pode variar de relativamente vazia a demasiadamente cheia. Nas pessoas obesas, as células adiposas podem inchar duas ou três vezes mais que seu tamanho normal e depois se dividir, resultando num número de até 75 bilhões. Isso pode acontecer por predisposição genética, padrões errados de alimentação, ou por excesso de comida. Uma vez aumentado o número de células adiposas, elas podem até encolher durante uma dieta, mas seu número jamais diminui.
Dentre as causas da obesidade estão fatores genéticos, privação do sono, influência social, hábitos sedentários, inatividade, e ingestão de comidas altamente calóricas.

Motivação sexual

A motivação sexual é a maneira inteligente de a natureza fazer as pessoas procriarem, possibilitando, assim, a perpetuação da nossa espécie.
Masters & Johnson (1966) descreveram o ciclo de resposta sexual no qual identificou quatro estágios, semelhantes em homens e mulheres:
  • Excitação – as áreas genitais se enchem de sangue.
  • Platô – a excitação atinge o ponto máximo enquanto os ritmos de respiração, pulsação e pressão sanguínea aumentam.
  • Orgasmo – há contrações musculares em todo o corpo. Na mulher, o orgasmo facilita a concepção por impelir o sêmen e posicionar o útero para receber o esperma.
  • Resolução – os vasos sanguíneos liberam o sangue acumulado. Nos homens, há um período refratário durante o qual a renovação da excitação e o orgasmo são impossíveis.
Transtornos sexuais são problemas que constantemente prejudicam o funcionamento sexual, mas podem ser tratados com sucesso, muitas vezes por terapia e/ou pelo uso de medicações. Dentre os transtornos encontrados nos homens estão falta de energia sexual, ejaculação precoce e disfunção erétil; já entre as mulheres é mais comum a disfunção orgásmica.
Os hormônios sexuais têm dois efeitos: controlam o desenvolvimento das caracterís-ticas sexuais masculinas e femi-ninas e ativam o comportamento sexual. Na maioria dos mamí-feros, a natureza sincroniza cuidadosamente o sexo com a fertilidade. A fêmea fica sexual-mente receptiva quando a produção do estrogênio chega ao máximo na ovulação. Já os níveis de testosterona, o hormônio sexual masculino, são mais constantes, pois este, ao contrário do feminino, não age como estímulo sexual, mas sim como resposta a este estímulo.
O interesse de uma pessoa por namorar e por sentir estimulação sexual geralmente aumenta com o fluxo de hormônios sexuais na puberdade.
Material erótico e outros estímulos externos podem despertar excitação sexual tanto em homens quanto em mulheres. O problema com a exposição a este material é que ele pode levar as pessoas a perceberem seus parceiros como menos atraentes. Além disso, materiais com conteúdo sexual abusivo podem levar seu público à aceitação do estupro e da violência sexual.
Até aqui levamos em conta a energização da motivação sexual, mas não a sua direção. Expressamos a direção do nosso interesse sexual em nossa orientação sexual, ou seja, a atração sexual duradoura voltada para pessoas do nosso próprio sexo (homossexual) ou para pessoas do sexo oposto (heterossexual).
Alguns homossexuais recordam suas preferências por brincadeiras do sexo oposto durante a infância, mas a maioria relata não ter percebido a atração pelo mesmo sexo até durante ou logo depois da puberdade.
A orientação sexual não é um indicador de saúde mental. “A homossexualidade, em si, não está associada a transtornos mentais ou a problemas emocionais ou sociais”, declara a Associação Americana de Psicologia (2007).

Necessidade de Pertencimento

Nossas necessidades de nos afiliarmos ou de pertencermos (o sentido de conexão que nos identifica com outras pessoas) tinham valor de sobrevivência para nossos ancestrais, o que pode explicar porque os humanos em todas as sociedades vivem em grupos.
A necessidade de pertencimento alimenta tanto as ligações profundas quanto os riscos ameaçadores. As sociedades de todos os lugares controlam o comportamento com a ameaça de ostracismo (excluir ou isolar o outro). É o que pode ser observado nos casos de bullying.
Quando socialmente excluídas, as pessoas podem se empenhar em comportamentos de autodepreciação (apresentar desempenho abaixo de suas capacidades) ou antissociais.

Motivação no trabalho

Para a maioria de nós, o trabalho é a principal fonte de ânimo. Ele ajuda a satisfazer vários níveis de necessidades identificados na pirâmide de necessidades de Maslow. O trabalho nos mantém, nos conecta e nos define.
Os psicólogos de recursos humanos (RH) trabalham nas organizações para criar métodos de seleção de novos empregados, recrutamento e avaliação de candidatos, desenvolvimento e avaliação de programas de treinamento, identificação das qualidades pessoais, análise das descrições de cargo, e reconhecimento do desenvolvimento pessoal e organizacional.
Os entrevistadores, quase sempre, superestimam seu discernimento. Entrevistas subjetivas costumam fomentar a ilusão do entrevistador. Entrevistas estruturadas apontam as qualidades relevantes para os cargos e são melhores previsores de desempenho.
A avaliação de desempenho ajuda a decidir quem manter, como recompensar e remunerar adequadamente as pessoas, e como aproveitar melhor suas qualidades. Além disso, o feedback reforça os pontos fortes dos trabalhadores e ajuda a motivar as melhorias necessárias. Listas de verificação e escalas gráficas de classificação de comportamento são métodos úteis de avaliação do desempenho.
Os psicólogos organizacionais consideram as influências sobre a satisfação e a produtividade dos trabalhadores e facilitam a mudança organizacional. O comprometimento dos empregados tende a se correlacionar com o sucesso da organização. O estilo de liderança pode ser direcionado a metas (liderança orientada por tarefas) ou orientado ao grupo (liderança social), ou, ainda, uma combinação dos dois.


MYERS, D.; Psicologia. Rio de Janeiro:LTC, 2012. Cap. 11

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