SENSAÇÃO
E PERCEPÇÃO
Sensação
é
o processo através do qual nossos receptores sensoriais e o sistema
nervoso recebem e representam energias de estímulo do ambiente. Em
outras palavras, sensação é um fenômeno psíquico elementar que
resulta da ação de estímulos externos sobre os nossos órgãos dos
sentidos. Portanto, a sensação é a capacidade de codificar certos
aspectos da energia física e química que nos circunda,
representando-os como impulsos nervosos capazes de serem
compreendidos pelos neurônios, ou seja, é a recepção de estímulos
do meio externo captado por algum dos nossos cinco sentidos: visual,
auditivo, tátil, olfativo e gustativo.
Percepção
é
o processo de organização e interpretação dessas informações.
Nossa percepção não identifica o mundo exterior como ele é na
realidade, transforma-o por intermédio dos nossos órgãos dos
sentidos, permitindo o reconhecimento da maneira que desejamos
percebê-lo.
Esse
processo pode ser de dois tipos:
-
Processamento
bottom-up
(de baixo para cima):
consiste na análise sensorial que se inicia no nível de entrada,
com a informação fluindo dos receptores para o cérebro.
-
Processamento
up-down
(de
cima para baixo):
é a análise que flui do cérebro para baixo, filtrando a informação
através da experiência e das expectativas para produzir percepções.
Somos
atingidos, frequentemente, por inúmeros estímulos do ambiente,
porém detectamos somente parte desses estímulos.
Limiar
diferencial é
a diferença quase imperceptível que discernimos entre dois
estímulos abaixo de nosso limiar absoluto para percepção
consciente, ou seja,
refere-se à capacidade que o sistema sensorial tem para detectar
alterações num determinado estímulo ou diferenças entre dois
estímulos. Exemplo: se você somar 1 grama a um peso de 10 gramas
(proporção 1/10), irá detectar a diferença, mas se acrescentar 1
grama a um peso de 100 gramas (proporção 1/100), provavelmente não
irá.
Adaptação
sensorial é
o ajustamento da capacidade sensorial após uma exposição
prolongada a um estímulo, tornando-nos menos sensíveis ao mesmo.
Exemplo: ao entrarmos numa piscina, inicialmente a água parece mais
gelada; ou, ao adentrarmos num ambiente escuro, a princípio, não
enxergamos nada.
APARELHOS
SENSORIAIS
Visão
é
a captação e o processamento da energia eletromagnética que flutua
em intensidade e comprimento de onda de raios gama, refletida pelos
objetos que nos cercam. O comprimento
de onda
determina a cor, e a intensidade
é determinada pela quantidade de energia contida nas ondas
luminosas.
Após
penetrarem no olho e serem focalizadas pelo cristalino,
as partículas de energia luminosa atingem a superfície interna do
olho, a retina.
Nesta, os bastonetes
(sensíveis
à luz) e os cones
(sensíveis à cor) convertem a energia em impulsos neurais que,
depois de processados, são transmitidos através do nervo
óptico
até o cérebro.
Seguindo
pelo nervo óptico, a informação visual passa por uma decussação
(disposição em cruz), onde a imagem captada pelo olho direito é
transmitida para o hemisfério cerebral esquerdo e a imagem captada
pelo olho esquerdo é transmitida para o hemisfério cerebral
direito.
A
imagem, então, viaja até o córtex
visual,
no lobo occipital, onde começa a ser processada na busca de padrões,
movimento, etc. A medida que avança para a direção frontal, a
informação é distribuída por estruturas especializadas no lobo
temporal
e no lobo
parietal,
passando por um processamento cada vez mais complexo que não apenas
reconstrói a imagem como também lhe dá significado em nível
consciente.
A
complexidade do sistema visual o torna ideal para ilustrar o
processamento
paralelo que
se dá no cérebro: diversas informações são processadas de
diversas formas simultaneamente.
A
teoria
tricromática de Young-Helmholtz propôs
que a retina contém três tipos de receptores de cor. Pesquisas
contemporâneas encontraram três tipos de cones, cada um mais
sensível aos comprimentos de onda de uma das três cores primárias
de luz (vermelho, verde ou azul). A teoria
do processo oponente de Hering propôs
três processos cromáticos adicionais (vermelho contra verde, azul
contra amarelo, preto contra branco). Pesquisas contemporâneas
confirmaram que, a caminho do cérebro, neurônios na retina e no
tálamo decodificam a informação de cores dos cones em pares de
cores oponentes. Ambas as teorias, e as pesquisas que as apoiam,
mostram que o processamento de cores ocorre em dois estágios.
Em
dias nublados a luz é filtrada pelas nuvens e o contraste diminui,
desta maneira, o vermelho parece menos vermelho, o verde parece menos
verde o azul parece mais azul, e assim por diante, sendo que em
algumas culturas tais dias são denominados “dias cinzentos”.
Pessoas deprimidas também apresentam uma percepção de contraste de
cores diminuída. Em um dia ensolarado uma pessoa clinicamente
deprimida poderá ter uma percepção de cor diferente de uma pessoa
saudável.
A
audição
foi
útil aos nossos ancestrais em suas atividades de caça e de defesa,
já que o ser humano é um mamífero de porte médio.
Atualmente
é notável a importância da audição e sua sensibilidade às
diferenças entre vozes, nos cuidados para com os bebês, por
exemplo, sendo que se destaca a capacidade das mães de reconhecerem
pequenas variações no choro do bebê que indicam diferentes
necessidades.
Nossa
audição é adaptada para captar melhor aqueles sons dentro da faixa
de frequência da voz humana.
O
estímulo sonoro é dependente de uma mídia que o propague, tal como
o ar, pois aquilo que escutamos é a vibração desta mídia, as
ondas sonoras, captadas
por nossos ouvidos. Portanto, ondas
sonoras são
faixas de ar comprimido e expandido. Nossos ouvidos detectam essas
mudanças na pressão do ar e as transformam em impulsos neurais, que
o cérebro decodifica como som. Ondas sonoras variam em frequência,
que
experimentamos como alturas diferentes, e amplitude,
que
percebemos como volumes diferentes.
O
ouvido
externo é
a porção visível do ouvido. O ouvido
médio é
a câmara entre o tímpano
e
a cóclea.
O
ouvido
interno consiste
na cóclea,
nos canais semicirculares e nos sacos vestibulares. Por intermédio
de uma cadeia mecânica de eventos, as ondas sonoras que viajam
através do canal auditivo provocam minúsculas vibrações do
tímpano. Os ossos do ouvido médio (o martelo,
a bigorna
e o estribo)
amplificam as vibrações e as transmitem para a cóclea,
repleta de líquido. Ondulações da membrana
basilar,
causadas por mudanças de pressão no líquido
coclear,
geram o movimento de minúsculas células
ciliadas,
desencadeando mensagens neurais a serem enviadas, via tálamo,
ao córtex
cerebral auditivo.
A
teoria
da codificação de lugar
propõe que ouvimos alturas diferentes porque sons de diferentes
intensidades disparam células em diferentes áreas da membrana
basilar da cóclea. Assim, o cérebro determina a altura de um som ao
reconhecer o local específico (na membrana) que está gerando o
sinal neural. Por outro lado, a teoria
da frequência afirma
que toda a membrana basilar vibra com a chegada dos sons, na mesma
taxa da onda que chega, de forma que as células ciliares disparam
alternadamente, portanto o cérebro identifica a altura do som ao
monitorar a frequência dos impulsos neurais que atravessa o nervo
auditivo. Ambas as teorias combinadas são úteis para explicar com
ouvimos os sons intermediários.
A
localização das orelhas também demonstra sua função adaptativa,
pois estando fixadas em dois lados opostos do crânio permitem uma
ideia de direção e distância de onde os sons que ouvimos se
originam. Ondas sonoras alcançam um ouvido antes e com mais
intensidade do que o outro. O cérebro analisa as minúsculas
diferenças entre os sons recebidos por ambos ouvidos e calcula a
localização
da fonte do som.
Enquanto
nossos olhos são voltados para a frente, nos conectando com uma
porção do mundo exterior delimitada pelo nosso campo de visão, os
ouvidos completam nossa percepção dos objetos externos que não
estão ao alcance do sentido do tato, da termocepção ou do olfato,
nos trazendo informações daquilo que está a nossa volta.
A
perda
auditiva condutiva
é resultante de danos ao sistema mecânico que transmite ondas
sonoras para a cóclea. Já a perda
auditiva neurossensorial (ou
surdez nervosa) advém de lesões às células ciliadas da cóclea ou
aos nervos associados a elas. Doenças e acidentes podem provocar
perda
auditiva,
mas distúrbios relacionados à idade e exposição prolongada a
ruídos altos são causas muito comuns. Implantes
cocleares artificiais
ajudam a restaurar a audição na maior parte dos adultos, embora
não naqueles cujo cérebro nunca aprendeu a processar sons durante a
infância.
Embora
nossos cérebros deem à visão e à audição prioridade de
distribuição no tecido cortical, acontecimentos extraordinários se
dão no âmbito dos outros sentidos.
O
sentido do tato
também desempenha um papel vital quando interagimos com outras
pessoas. Quanta informação se pode inferir a partir de um aperto de
mão em uma reunião de negócios? Qual o valor do abraço de um
amigo num momento difícil? Qual a importância do contato físico
com os pais para o desenvolvimento saudável de uma criança?
O
sentido do tato,
na
verdade, consiste em vários sentidos – pressão, tepidez, frio e
dor – que se combinam de forma a produzir outras sensações. Pela
cinestesia,
assimilamos
a posição e o movimento das partes do corpo. Monitoramos sua
posição e mantemos o equilíbrio por meio do sentido
vestibular. A
dor,
ou
o sentido da
nocicepção, é
um sistema de alarme que atrai nossa atenção para alguns problemas
físicos.
O
paladar
é
um sentido químico, que é útil de duas formas: para que reforce
nosso comportamento alimentar, fazendo com que procuremos certos
nutrientes, e para que possamos reconhecer substâncias nocivas para
a nossa saúde. Nossa língua conta com papila
gustativas capazes
de detectar elementos químicos que se traduzem nas sensações de
doce, azedo, salgado, amargo e umami (realçador de sabor glutamato
monossódico.
A
interação
sensorial se
dá com a participação do sentido do olfato no sentido do paladar.
Sem o olfato temos dificuldades para distinguir os sabores. Nesse
sentido, os sabores são formados pelo odor (olfato), pela gustação
(paladar) e pela textura (tato) daquilo que ingerimos.
Como
o paladar, o olfato
é
um sentido químico, Sentimos o cheiro de algo quando as moléculas
de uma substância, transportadas pelo ar, alcançam um minúsculo
aglomerado de pelo menos 5 milhões de células
receptoras
localizadas no topo de cada cavidade nasal. Essas células enviam
mensagem ao bulbo
olfatório
localizado no cérebro e em seguida ao lobo
temporal
e a regiões do sistema
límbico.
Os odores podem evocar, de modo espontâneo, lembranças e
sentimentos, em parte, deviso às íntimas conexões entre as áreas
cerebrais que processam o olfato e a memória.
Para
reconhecermos um objeto, primeiro temos de percebê-lo (vê-lo como
figura)
como distinto de seus arredores (o fundo).
Entre as vozes que você ouve em uma festa, aquela a que você presta
atenção torna-se a figura e todas as outras tornam-se o fundo. A
relação figura-fundo
inverte-se continuamente, mas sempre organizamos o estímulo em uma
figura vista contra um fundo. Na figura ao lado, ao focalizarmos os
dois rostos em preto, a parte branca se torna fundo; ao focalizarmos
o cálice em branco, a parte preta se torna fundo. Damos ordem e
forma aos estímulos organizando-os em grupos significativos,
seguindo as regras de proximidade, semelhança, continuidade,
conectividade e fechamento.
Normalmente
nosso cérebro calcula o movimento
baseado em parte na suposição de que objetos que encolhem estão se
afastando (e não diminuindo) e aqueles que aumentam estão se
aproximando. No entanto, somos imperfeitos na percepção de
movimento. Para nós, objetos grandes parecem mover-se com mais
lentidão do que os pequenos. Por exemplo, num aeroporto, um avião
Jumbo parece aterrissar mais lentamente do que jatos pequenos.
A
constância
perceptiva
ajuda-nos a organizar nossas sensações em percepções
significativas habilitando-nos a perceber objetos como estáveis a
despeito da imagem mutável que eles refletem na retina.
Percepção
de forma, percepção de profundidade, percepção de movimento e
constância perceptiva esclarecem
a forma como organizamos nossas experiências visuais.
Há
um período crítico para alguns aspectos do desenvolvimento
sensorial e perceptivo. Sem estimulação precoce a organização
neural do cérebro não se desenvolve normalmente, comprometendo a
interpretação
perceptiva.
Por exemplo, pessoas que nasceram cegas mas adquiriram a visão após
cirurgia carecem de experiências para reconhecer formatos, formas e
faces completas.
A
adaptação
perceptiva acontece
quando temos que nos adaptar a uma nova situação. A princípio
ficamos desorientados, mas conseguimos nos adaptar ao novo contexto.
Com o passar do tempo podemos adaptar-nos a muitos tipos de distorção
visual extrema. A adaptação vai se fazendo a medida que retemos
novas experiências de forma a servirem como termo de comparação.
Nossas
experiências, suposições e expectativas podem nos proporcionar um
conjunto
perceptivo, ou
predisposição mental, que influencia em grande medida (através do
processamento top-down) o que percebemos. Nossos conceitos aprendidos
influenciam o modo como organizamos e interpretamos estímulos
ambíguos. O contexto circundante ajuda a criar expectativas que
guiam nossas percepções. O contexto emocional pode realçar nossa
interpretação do comportamento de outras pessoas, bem como do nosso
próprio.
MYERS,
D.; Psicologia. Rio de Janeiro:LTC, 2012. Cap. 6
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