quarta-feira, 28 de setembro de 2016

PPB AULA 2 SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO

SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO

Sensação é o processo através do qual nossos receptores sensoriais e o sistema nervoso recebem e representam energias de estímulo do ambiente. Em outras palavras, sensação é um fenômeno psíquico elementar que resulta da ação de estímulos externos sobre os nossos órgãos dos sentidos. Portanto, a sensação é a capacidade de codificar certos aspectos da energia física e química que nos circunda, representando-os como impulsos nervosos capazes de serem compreendidos pelos neurônios, ou seja, é a recepção de estímulos do meio externo captado por algum dos nossos cinco sentidos: visual, auditivo, tátil, olfativo e gustativo.
Percepção é o processo de organização e interpretação dessas informações. Nossa percepção não identifica o mundo exterior como ele é na realidade, transforma-o por intermédio dos nossos órgãos dos sentidos, permitindo o reconhecimento da maneira que desejamos percebê-lo.
Esse processo pode ser de dois tipos:
- Processamento bottom-up (de baixo para cima): consiste na análise sensorial que se inicia no nível de entrada, com a informação fluindo dos receptores para o cérebro.
- Processamento up-down (de cima para baixo): é a análise que flui do cérebro para baixo, filtrando a informação através da experiência e das expectativas para produzir percepções.
Somos atingidos, frequentemente, por inúmeros estímulos do ambiente, porém detectamos somente parte desses estímulos.
Limiar absoluto é a estimulação mínima necessária para detectarmos uma luz, um som, uma pressão, um sabor ou um odor específicos. Os limiares absolutos variam de pessoa para pessoa dependendo da intensidade do sinal, e da experiência, expectativa, motivação e estado de alerta do indivíduo. Nosso limiar absoluto aponta para o limite de nossa percepção a um determinado estímulo sensorial em 50% das vezes, ou seja, deixaremos de detectar o estímulo na metade do tempo, mas na outra metade somos capazes de detectá-lo. Durante algum tempo foi explorada a capacidade de persuasão por meio de estímulos que permanecessem abaixo do limiar absoluto, passando desapercebidos para a maioria das pessoas na maior parte do tempo (estimulação subliminar).
Limiar diferencial é a diferença quase imperceptível que discernimos entre dois estímulos abaixo de nosso limiar absoluto para percepção consciente, ou seja, refere-se à capacidade que o sistema sensorial tem para detectar alterações num determinado estímulo ou diferenças entre dois estímulos. Exemplo: se você somar 1 grama a um peso de 10 gramas (proporção 1/10), irá detectar a diferença, mas se acrescentar 1 grama a um peso de 100 gramas (proporção 1/100), provavelmente não irá.

Adaptação sensorial é o ajustamento da capacidade sensorial após uma exposição prolongada a um estímulo, tornando-nos menos sensíveis ao mesmo. Exemplo: ao entrarmos numa piscina, inicialmente a água parece mais gelada; ou, ao adentrarmos num ambiente escuro, a princípio, não enxergamos nada.

APARELHOS SENSORIAIS

Visão é a captação e o processamento da energia eletromagnética que flutua em intensidade e comprimento de onda de raios gama, refletida pelos objetos que nos cercam. O comprimento de onda determina a cor, e a intensidade é determinada pela quantidade de energia contida nas ondas luminosas.
Após penetrarem no olho e serem focalizadas pelo cristalino, as partículas de energia luminosa atingem a superfície interna do olho, a retina. Nesta, os bastonetes (sensíveis à luz) e os cones (sensíveis à cor) convertem a energia em impulsos neurais que, depois de processados, são transmitidos através do nervo óptico até o cérebro.
Seguindo pelo nervo óptico, a informação visual passa por uma decussação (disposição em cruz), onde a imagem captada pelo olho direito é transmitida para o hemisfério cerebral esquerdo e a imagem captada pelo olho esquerdo é transmitida para o hemisfério cerebral direito.
A imagem, então, viaja até o córtex visual, no lobo occipital, onde começa a ser processada na busca de padrões, movimento, etc. A medida que avança para a direção frontal, a informação é distribuída por estruturas especializadas no lobo temporal e no lobo parietal, passando por um processamento cada vez mais complexo que não apenas reconstrói a imagem como também lhe dá significado em nível consciente.
A complexidade do sistema visual o torna ideal para ilustrar o processamento paralelo que se dá no cérebro: diversas informações são processadas de diversas formas simultaneamente.
A teoria tricromática de Young-Helmholtz propôs que a retina contém três tipos de receptores de cor. Pesquisas contemporâneas encontraram três tipos de cones, cada um mais sensível aos comprimentos de onda de uma das três cores primárias de luz (vermelho, verde ou azul). A teoria do processo oponente de Hering propôs três processos cromáticos adicionais (vermelho contra verde, azul contra amarelo, preto contra branco). Pesquisas contemporâneas confirmaram que, a caminho do cérebro, neurônios na retina e no tálamo decodificam a informação de cores dos cones em pares de cores oponentes. Ambas as teorias, e as pesquisas que as apoiam, mostram que o processamento de cores ocorre em dois estágios.
Em dias nublados a luz é filtrada pelas nuvens e o contraste diminui, desta maneira, o vermelho parece menos vermelho, o verde parece menos verde o azul parece mais azul, e assim por diante, sendo que em algumas culturas tais dias são denominados “dias cinzentos”. Pessoas deprimidas também apresentam uma percepção de contraste de cores diminuída. Em um dia ensolarado uma pessoa clinicamente deprimida poderá ter uma percepção de cor diferente de uma pessoa saudável.
A audição foi útil aos nossos ancestrais em suas atividades de caça e de defesa, já que o ser humano é um mamífero de porte médio.
Atualmente é notável a importância da audição e sua sensibilidade às diferenças entre vozes, nos cuidados para com os bebês, por exemplo, sendo que se destaca a capacidade das mães de reconhecerem pequenas variações no choro do bebê que indicam diferentes necessidades.
Nossa audição é adaptada para captar melhor aqueles sons dentro da faixa de frequência da voz humana.
O estímulo sonoro é dependente de uma mídia que o propague, tal como o ar, pois aquilo que escutamos é a vibração desta mídia, as ondas sonoras, captadas por nossos ouvidos. Portanto, ondas sonoras são faixas de ar comprimido e expandido. Nossos ouvidos detectam essas mudanças na pressão do ar e as transformam em impulsos neurais, que o cérebro decodifica como som. Ondas sonoras variam em frequência, que experimentamos como alturas diferentes, e amplitude, que percebemos como volumes diferentes.
O ouvido externo é a porção visível do ouvido. O ouvido médio é a câmara entre o tímpano e a cóclea. O ouvido interno consiste na cóclea, nos canais semicirculares e nos sacos vestibulares. Por intermédio de uma cadeia mecânica de eventos, as ondas sonoras que viajam através do canal auditivo provocam minúsculas vibrações do tímpano. Os ossos do ouvido médio (o martelo, a bigorna e o estribo) amplificam as vibrações e as transmitem para a cóclea, repleta de líquido. Ondulações da membrana basilar, causadas por mudanças de pressão no líquido coclear, geram o movimento de minúsculas células ciliadas, desencadeando mensagens neurais a serem enviadas, via tálamo, ao córtex cerebral auditivo.
A teoria da codificação de lugar propõe que ouvimos alturas diferentes porque sons de diferentes intensidades disparam células em diferentes áreas da membrana basilar da cóclea. Assim, o cérebro determina a altura de um som ao reconhecer o local específico (na membrana) que está gerando o sinal neural. Por outro lado, a teoria da frequência afirma que toda a membrana basilar vibra com a chegada dos sons, na mesma taxa da onda que chega, de forma que as células ciliares disparam alternadamente, portanto o cérebro identifica a altura do som ao monitorar a frequência dos impulsos neurais que atravessa o nervo auditivo. Ambas as teorias combinadas são úteis para explicar com ouvimos os sons intermediários.
A localização das orelhas também demonstra sua função adaptativa, pois estando fixadas em dois lados opostos do crânio permitem uma ideia de direção e distância de onde os sons que ouvimos se originam. Ondas sonoras alcançam um ouvido antes e com mais intensidade do que o outro. O cérebro analisa as minúsculas diferenças entre os sons recebidos por ambos ouvidos e calcula a localização da fonte do som.
Enquanto nossos olhos são voltados para a frente, nos conectando com uma porção do mundo exterior delimitada pelo nosso campo de visão, os ouvidos completam nossa percepção dos objetos externos que não estão ao alcance do sentido do tato, da termocepção ou do olfato, nos trazendo informações daquilo que está a nossa volta.
A perda auditiva condutiva é resultante de danos ao sistema mecânico que transmite ondas sonoras para a cóclea. Já a perda auditiva neurossensorial (ou surdez nervosa) advém de lesões às células ciliadas da cóclea ou aos nervos associados a elas. Doenças e acidentes podem provocar perda auditiva, mas distúrbios relacionados à idade e exposição prolongada a ruídos altos são causas muito comuns. Implantes cocleares artificiais ajudam a restaurar a audição na maior parte dos adultos, embora não naqueles cujo cérebro nunca aprendeu a processar sons durante a infância.
Embora nossos cérebros deem à visão e à audição prioridade de distribuição no tecido cortical, acontecimentos extraordinários se dão no âmbito dos outros sentidos.
O sentido do tato também desempenha um papel vital quando interagimos com outras pessoas. Quanta informação se pode inferir a partir de um aperto de mão em uma reunião de negócios? Qual o valor do abraço de um amigo num momento difícil? Qual a importância do contato físico com os pais para o desenvolvimento saudável de uma criança?
O sentido do tato, na verdade, consiste em vários sentidos – pressão, tepidez, frio e dor – que se combinam de forma a produzir outras sensações. Pela cinestesia, assimilamos a posição e o movimento das partes do corpo. Monitoramos sua posição e mantemos o equilíbrio por meio do sentido vestibular. A dor, ou o sentido da nocicepção, é um sistema de alarme que atrai nossa atenção para alguns problemas físicos.
A sensação de dor não depende exclusivamente dos nervos receptores espalhados pelo corpo, mas também, em grande parte, do nosso cérebro. A teoria do portão sugere que a medula espinhal contém um portão neurológico que se abre para permitir que sinais de dor que sobem através de pequenas fibras nervosas alcancem o cérebro, ou se fecha para evitar sua passagem. O enfoque biopsicossocial vê a dor como a soma de três conjuntos de forças: influências biológicas, como fibras nervosas que enviam mensagens ao cérebro; influências psicológicas, como nossas expectativas; e influências socioculturais, como a presença ou a ausência de alguém. Os tratamentos para controle da dor muitas vezes combinam elementos fisiológicos e psicológicos. Portanto a dor é um bom exemplo que se aplica tanto no processamento bottom-up quanto no processamento up-down.
O paladar é um sentido químico, que é útil de duas formas: para que reforce nosso comportamento alimentar, fazendo com que procuremos certos nutrientes, e para que possamos reconhecer substâncias nocivas para a nossa saúde. Nossa língua conta com papila gustativas capazes de detectar elementos químicos que se traduzem nas sensações de doce, azedo, salgado, amargo e umami (realçador de sabor glutamato monossódico.
A interação sensorial se dá com a participação do sentido do olfato no sentido do paladar. Sem o olfato temos dificuldades para distinguir os sabores. Nesse sentido, os sabores são formados pelo odor (olfato), pela gustação (paladar) e pela textura (tato) daquilo que ingerimos.
Como o paladar, o olfato é um sentido químico, Sentimos o cheiro de algo quando as moléculas de uma substância, transportadas pelo ar, alcançam um minúsculo aglomerado de pelo menos 5 milhões de células receptoras localizadas no topo de cada cavidade nasal. Essas células enviam mensagem ao bulbo olfatório localizado no cérebro e em seguida ao lobo temporal e a regiões do sistema límbico. Os odores podem evocar, de modo espontâneo, lembranças e sentimentos, em parte, deviso às íntimas conexões entre as áreas cerebrais que processam o olfato e a memória.

Os psicólogos da Gestalt enfatizam nossa tendência a integrar partes de informações em um todo significativo. Ao apontar que o todo é maior que a soma das partes, eles observaram que filtramos informações sensoriais e inferimos percepções de maneiras que façam sentido para nós.
Para reconhecermos um objeto, primeiro temos de percebê-lo (vê-lo como figura) como distinto de seus arredores (o fundo). Entre as vozes que você ouve em uma festa, aquela a que você presta atenção torna-se a figura e todas as outras tornam-se o fundo. A relação figura-fundo inverte-se continuamente, mas sempre organizamos o estímulo em uma figura vista contra um fundo. Na figura ao lado, ao focalizarmos os dois rostos em preto, a parte branca se torna fundo; ao focalizarmos o cálice em branco, a parte preta se torna fundo. Damos ordem e forma aos estímulos organizando-os em grupos significativos, seguindo as regras de proximidade, semelhança, continuidade, conectividade e fechamento.
A percepção de profundidade é nossa habilidade de ver os objetos em três dimensões e avaliar a distância. O abismo visual (dispositivo de laboratório usado para testar a percepção de profundidade em bebês e animais jovens) e outras pesquisas demonstram que muitas espécies percebem o mundo em três dimensões desde o nascimento ou logo depois dele. Os indicadores binoculares (como a disparidade retiniana) são indicadores de profundidade que se apoiam em informações de ambos os olhos. Os indicadores monoculares (tais como tamanho relativo, interposição, altura relativa, movimento relativo, perspectiva linear, luz e sombra) permitem-nos avaliar a profundidade, utilizando informações transmitidas por um olho apenas.
Normalmente nosso cérebro calcula o movimento baseado em parte na suposição de que objetos que encolhem estão se afastando (e não diminuindo) e aqueles que aumentam estão se aproximando. No entanto, somos imperfeitos na percepção de movimento. Para nós, objetos grandes parecem mover-se com mais lentidão do que os pequenos. Por exemplo, num aeroporto, um avião Jumbo parece aterrissar mais lentamente do que jatos pequenos.
A constância perceptiva ajuda-nos a organizar nossas sensações em percepções significativas habilitando-nos a perceber objetos como estáveis a despeito da imagem mutável que eles refletem na retina.
Percepção de forma, percepção de profundidade, percepção de movimento e constância perceptiva esclarecem a forma como organizamos nossas experiências visuais.
Há um período crítico para alguns aspectos do desenvolvimento sensorial e perceptivo. Sem estimulação precoce a organização neural do cérebro não se desenvolve normalmente, comprometendo a interpretação perceptiva. Por exemplo, pessoas que nasceram cegas mas adquiriram a visão após cirurgia carecem de experiências para reconhecer formatos, formas e faces completas.
A adaptação perceptiva acontece quando temos que nos adaptar a uma nova situação. A princípio ficamos desorientados, mas conseguimos nos adaptar ao novo contexto. Com o passar do tempo podemos adaptar-nos a muitos tipos de distorção visual extrema. A adaptação vai se fazendo a medida que retemos novas experiências de forma a servirem como termo de comparação.
Nossas experiências, suposições e expectativas podem nos proporcionar um conjunto perceptivo, ou predisposição mental, que influencia em grande medida (através do processamento top-down) o que percebemos. Nossos conceitos aprendidos influenciam o modo como organizamos e interpretamos estímulos ambíguos. O contexto circundante ajuda a criar expectativas que guiam nossas percepções. O contexto emocional pode realçar nossa interpretação do comportamento de outras pessoas, bem como do nosso próprio.

MYERS, D.; Psicologia. Rio de Janeiro:LTC, 2012. Cap. 6





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