sábado, 22 de abril de 2017

Sob pressão - Carl Honoré (2009)

Queria fazer tudo para meus filhos: tirar cada obstáculo de seu caminho, lutar cada batalha e receber cada golpe. John O'Farrell, no livro Coisa de louco (p. 5)

Por mais tranquilamente que você tente atuar como juiz, a educação dos filhos às vezes produzirá comportamentos bizarros, e não estou falando das crianças. Bill Cosby (p. 13)

Há 2 mil anos, um professor chamado Lucius Orbilius Pupillus identificou pais ansiosos como um risco ocupacional nas salas de aula da antiga Roma. (p. 16)

Todos, do Estado à indústria da publicidade, têm planos para a infância. Na Inglaterra, uma força-tarefa de parlamentares recentemente alertou para o número excessivo de crianças que sonham em crescer para serem princesas de contos de fadas ou astros de futebol. A solução que encontraram: orientação profissional para crianças de 5 anos. (p. 17)

Na década passada, a razão mais comum para visitar o orientador psicológico do campus eram os problemas com namorado ou namorada, hoje, é a ansiedade. (p. 23)

Pesquisas em todo o mundo sugerem que a depressão e a ansiedade infantis - assim como o abuso de substâncias, a autoagressão e o suicídio que frequentemente vêm com elas - agora são mais comuns não nos guetos urbanos, mas nos apartamentos inteligentes do centro e nos subúrbios arborizados, onde a classe média ambiciosa gerencia o projeto de vida de seus filhos. (p. 23)

Até mesmo as crianças pequenas estão engolindo antidepressivos com o leite que tomam antes de dormir. Em todo o mundo, as receitas de Ritalina, Concerta, Attenade e outras drogas criadas para domar a hiperatividade nas crianças têm triplicado desde 1993. (p. 24)

Um médico de um subúrbio elegante de Nova York agora pergunta a cada pai que o procura pedindo uma receita de Ritalina: "Você quer isso para tornar a vida mais fácil para seu filho ou para você?" Subjacente a essa alta repentina de ingestão de pílulas, há uma ironia ácida: uma geração de adultos que usou drogas para soltar-se e libertar a mente agora as está usando para controlar seus próprios filhos com rédea curta.
O impulso de alavancar nossas crianças assumiu um aspecto de Frankenstein. Inspirados por uma pesquisa que mostrava que pessoas altas tendem a ser mais bem-sucedidas, alguns pais estão pagando para injetar hormônios de crescimento em seus filhos normais e saudáveis. Cada centímetro estra de altura custa aproximadamente 25 mil libras. (p. 25)

"Eu me sinto como um projeto, no qual meus pais sempre estão trabalhando", diz Susan Wong, de 14 anos, de Vancouver, no Canadá. "Eles até falam de mim na terceira pessoa na minha frente". (p. 28)

Nos últimos tempos de sua atuação como decana, Marilee reescreveu o formulário de inscrição do MIT, diminuindo pela metade o espaço destinado a atividades extracurriculares e incluindo mais perguntas sobre o que realmente fazia bater mais forte o coração do candidato. (P. 33)

"Estamos criando uma geração inteira de crianças para nos agradar, nos fazer alegres e orgulhosos, para serem o que queremos que sejam", disse ela aos 350 presentes. "Eu sei disso porque diz a mesma coisa com minha própria filha, por anos a fio, e como resultado quase a perdi". (p. 33)

Ariès estava certo no sentido de que o passado distante era um lugar adulto, mas sua afirmação de que nossos antecessores não tinham concepção da infância e, portanto, nunca trataram as crianças diferenciadamente é muito exagerada. (p. 39)

É de admirar que, depois de todo esse esforço, todo esse sacrifício e autoabnegação, as realizações de nossas crianças comecem a se parecer com as nossas próprias? (p. 44)

Também pode explicar por que tão frequentemente falamos sobre o que nossos filhos podem fazer por nós, mais do que o contrário. O lema do Supernanny, programa que vai ao ar em 45 países, diz tudo: "Como obter o máximo de nossos filhos". (p. 45)

Em muitos países, pesquisas sugerem que os muito ricos começaram a ter famílias maiores. As crianças agora são símbolo de status, o privilégio definitivo em uma cultura consumista. Esqueçam da esposa troféu. Esta é a era da criança troféu. (p. 46)

A partir dos anos 1990, uma pesquisa mostrou que os bebês começam a formar complexas redes neurais no período do nascimento e, com isso, transformou cada segundo dos primeiros anos de uma criança em um momento potencial de ensinamento. Vejam esse alerta da revista Newsweek: "Cada canção de ninar, cada riso e cada boneco dispara um estado nas redes neurais do bebê, deixando o terreno pronto para o que um dia poderá ser amor pelas artes, talento para o futebol ou dom para fazer amigos". (p. 46)

A ideia romântica de que a infância deve ser o tempo de brincadeira evoluiu gradualmente para a crença de que a felicidade é um direito de nascença de todas as crianças. (p. 54)

Uma recente reportagem da BBC comparava ter filhos com suicídio financeiro: "Casais podem tornar-se milionários evitando a armadilha da paternidade (grifo meu) e investindo o dinheiro em outro lugar". Não é de admirar que, quando temos filhos, procuremos maximizar o retorno do nosso investimento. (p. 55)

Como pode alguém rebelar-se quando Papai conhece as regras até do avesso e toca Kaiser Chiefs ou Show Patrol tão alto que a casa treme? Ou quando Mamãe tem um piercing no umbigo e frequenta aulas de striptease? Só há duas soluções. Procurar uma forma mais extrema de revolta, como as drogas, um distúrbio alimentar ou a autoflagelação; ou não se rebelar - o jovem se conforma, se adapta ao papel de Criança Gerenciada, torna-se mais um tijolo na parede. (p. 56)

Fui examinar o livro que tanto a agradou. Seu título foi calculado para colocar qualquer mãe em pânico: Children's Sucess Depends 99% on the Mother! A contracapa traz uma foto da autora coreana, que parece presunçosa, e não é de admirar: ela tem duas filhas fazendo estudos de graduação em Harvard e Yale e um filho na Harvard Business School. (p. 60)

Valendo-se de teatro de marionetes com patos que desaparecem, os pesquisadores mostraram que os bebês podem entender a ideia de "permanência do objeto" (ou seja, que quando mamãe sai do quarto, ela não deixa de existir) já na décima semana de vida e não aos 9 meses como se acreditava antes. (p. 62)

Considere o resultado menos divulgado desta pesquisa: nenhuma quantidade de enriquecimento jamais produziu ratos com cérebros melhores do que aqueles criados na natureza. (p. 64)

Sua conclusão: mesmo que ouvir Mozart aumente o raciocínio espacial e temporal (e nem todos os estudos mostraram isso), os efeitos não duram mais de 20 minutos. (p. 65)

Demasiado estímulo pode interferir no sono, de que os bebês precisam para processar e consolidar o que aprenderam durante as horas de vigília. (p. 68)

Se o cérebro de um bebê é inundado com hormônios do estresse, como a adrenalina e a cortisona, a mudança química pode tornar-se permanente com o decorrer do tempo, dificultando a aprendizagem ou o controle da agressividade mais tarde na vida e aumentando a chance de depressão. (p. 68)

Passem menos tempo tentando enriquecer seu bebê e mais tempo tentando conhecê-lo. (p. 69)

Pesquisas mostram que os mamíferos que brincam mais, como golfinhos e chimpanzés, têm os maiores cérebros. (p. 75)

Um estudo levado a cabo em 2003 descobriu que crianças da Dinamarca e da Finlândia, onde a escolarização formal começa aos 6 ou 7 anos de idade, se concentravam melhor do que as de mesma idade na Inglaterra, onde a educação começa dois anos antes. (p. 89)

"Hoje em dia, a visão dominante é de que a criança precisa de uma direção adulta constante para alcançar padrões estabelecidos pelos próprios adultos", diz Claudia Giudici, uma professora local e porta-voz do projeto educativo de Reggio. (p. 90)

Como diz Maria Montessori, "brincar é o trabalho da criança".
E essa abordagem parece funcionar. Estudos feitos com crianças de ambientes familiares parecidos mostram que aquelas que frequentam creches montessorianas chegam à escola primária mais bem preparadas para lidar com a leitura e a matemática e para lidar com problemas complexos. As crianças montessorianas são especialmente dotadas para brincar e trabalhar com seus colegas. (p. 98)

Ela gostou muito e, no processo, aprendeu todo tipo de coisas, como os nomes dos animais e a diferença entre um avião e um helicóptero. Ela agora fala melhor do que seus colegas que frequentam creches acadêmicas e parece saber muito mais sobre o mundo. (p. 100)

Ao longo do caminho, quase por osmose, elas absorvem os rudimentos que são martelados na cabeça das outras crianças na sala de aula. (p. 103)

Arqueólogos, que fizeram escavações para conhecer as civilizações do vale do rio Indo, encontraram pequenos carros e apitos com forma de pássaros que têm cerca de 5 mil anos. No ano 11 a.C., os pais da antiga Pérsia davam de presente a seus filhos carroças feitas de calcário com eixos de madeira. Na antiga Grécia e em Roma, as crianças brincavam com bolas, chocalhos de argila, cavalinhos e piões. (p. 108)

O Centro Internacional de Pesquisa sobre Brinquedo, com sede Estocolmo, adota linha similar: "Questiono totalmente o conceito de brinquedo educativo", diz seu fundador e diretor Krister Svensson. "É o ambiente da brincadeira que é educativo, não o próprio brinquedo. Você pode fazer um brinquedo complexo que force as crianças a manipulá-lo de certo modo, mas as crianças podem aprender a mesma coisa ao tirar e colocar repetidamente a tampa de uma caixa de sapatos". (p. 115)

Até mesmo alguns brinquedos tradicionais ficaram mais parecidos com uma receita, deixando menos espaço para as crianças inventarem suas próprias brincadeiras. Observem o Lego. A companhia que o fabrica costumava obter a maior parte do seu lucro vendendo caixas de peças de Lego misturadas, que as crianças usavam para construir qualquer coisa que sua imaginação ditasse. Hoje em dia, mais da metade da receita da Lego vem de conjuntos temáticos planejados para montar uma única estrutura - uma nave imperial de Guerra nas Estrelas, por exemplo, ou uma Inika Biônica. (p. 116)

Os fabricantes de brinquedos defendem a ideia de que a criança do século XXI precisa de mais roteiros preestabelecidos e de personagens definidos, de mais influência adulta para poder brincar. Bobagem, respondem os especialistas; as crianças têm as mesmas necessidades de brincar, hoje, que tinham há quinhentos anos. (p. 117)

"Quanto mais informação e esperteza o inventor coloca no brinquedo, menos espaço sobra para a imaginação e a criatividade da criança", afirmou um observador nos anos 1890. (p. 118)

"Acho que, ao dar-lhes brinquedos que faziam tudo, nós o deixamos sem nada para fazer. Uma vez que ele teve brinquedos que o deixavam explorar e expressar-se, sem guiá-lo a fazer isto ou aquilo, Sam começou a desenvolver-se. Como pais, pensamos que o mais recente e mais caro dos brinquedos, especialmente se afirma ser educativo, seria a melhor coisa para nosso filho, mas nem sempre isto é verdade. As crianças precisam de brinquedos que lhes permitiam ser crianças". (p. 119)

Existe algo de mau gosto em misturar brinquedos com grandes negócios. Eu acabara de passar um dia inteiro falando sobre crianças e não com elas. (p. 124)

E então me deparei com o playground da feira. A primeira surpresa foi que de fato havia algumas crianças lá dentro. A segunda foi que, em vez de as crianças estarem recebendo todos os últimos brinquedos eletrônicos, a sala estava cheia de acessórios tradicionais, que deixam bastante espaço para imaginar e inventar: blocos de construção de madeira, livros de gravuras, fantasias, bichos de pelúcia, uma parede para escalar, massinha para modelar, lápis de cor e papel. (p. 124)

Lee respondeu-lhes que terminaria logo e iria para casa. Poucos minutos depois, seu coração falhou. Ele desmaiou e pouco depois morreu. (p. 128)

Os bebês também estão conectados. Em muitos países, canais especiais oferecem imagens 24 horas por dia para bebês de mais de 6 meses. Um quarto dos norte-americanos com menos de 2 anos de idade tem uma televisão no quarto. (p. 129)

Um estudo de 2005, feito pela Hewlett Packard, concluiu que o bombardeio incessante de e-mails, ligações telefônicas e mensagens instantâneas faz com que o QI do trabalhador de escritório médio caia 10 pontos - o dobro da queda causada por fumar maconha. (p. 130)

Outro temor é que o tempo demais diante da tela, em especial quando envolve imagens que passam rapidamente, possa colocar cérebros jovens em um permanente estado de excessiva estimulação. (p. 131)

Um estudo descobriu que jogar videogames violentos por trinta minutos diminui a atividade no lobo frontal da criança, a região do cérebro ligada à concentração e ao controle do impulso. (p. 131)

Platão alertou para que a leitura traria o fim da civilização, por matar a memória, o argumento e a tradição oral. (p. 132)

Os pesquisadores chegaram à mesma conclusão que os outros: a DADH é uma condição neurológica com a qual as pessoas nascem, não uma doença causada pelos pais que entregam o controle remoto a seus filhos pequenos. (p. 132)

Os cientistas estão inclusive mostrando que jogar no computador pode proporcionar uma melhora cognitiva. (p. 133)

Realizado em Barcelona, um novo estudo sugeriu que os jogos de computador podem estimular funções cerebrais em pacientes com o Mal de Alzheimer. (p. 133)

Em todo o mundo, o QI médio vem subindo estavelmente há décadas, um fenômeno que é conhecido como o efeito Flynn. Enquanto as pontuações das habilidades verbais e numéricas permaneceram iguais, as que medem a inteligência visual e espacial, assim como a capacidade de completar sequências de formas, subiram muito. Os cientistas não estão muito seguro sobre como explicar isso, com teorias que variam desde melhor nutrição e famílias menores até a crescente familiaridade com os testes de QI e mudanças nos próprios testes. Mas alguns atribuem o efeito Flynn, que parece já haver ocupado o mundo industrial, ao estímulo extra, visual e intelectual, facultado pela cultura multimídia. (p. 134)

Um importante estudo publicado em 2006 pelo King's College, de Londres, descobriu que os ingleses de 11 e 12 anos estão agora entre dois a três anos atrasados, em relação a seus colegas dos anos 1970, quando se trata de compreender conceitos como volume e densidade, uma capacidade que tem sido ligada à inteligência geral e à capacidade de lidar com novas ideias complexas. (p. 134)

E deverá surpreender-nos o fato de que a geração digital é a mais gorda da história humana? (p. 135)

De forma similar, o Conselho Central para Educação observou no Japão, enlouquecido pela tecnologia, um firme declínio das capacidades motoras básicas desde a metade dos anos 1980: as crianças japonesas não correm mais, não pulam, agarram e lançam como faziam as crianças de geração anteriores. Elas têm músculos mais fracos, reflexos mais lentos e menos estamina. (p. 135)

A privação do sono pode tolher o crescimento físico, assim como prejudicar a concentração e a memória. Estudos em todo o mundo mostram que, em média, as crianças estão dormindo até duas horas menos por noite do que na geração anterior. (p. 136)

Muitos outros estudos vinculam a mídia eletrônica no quarto a notas más na escola. (p. 136)

Por milhares de anos, a humanidade desenvolveu um arsenal complexo, matizado e instintivo de comunicação física - linguagem corporal, expressões faciais, feromônios -, o que restringe a banda larga em sua capacidade de transmitir significado e forjar laços emocionais. (p. 137)

No passado, estudos e mais estudos mostraram que, quando apresentados a uma gama de objetos e a um rosto humano, os bebês e as crianças pequenas tendem a olhar primeiro para o rosto. (p. 138)

A maioria das crianças ainda escolhe um rosto humano em vez de uma casa de bonecas, um barco de plástico ou um trem de brinquedo. Já quando uma tela de televisão em branco aparece ao lado do rosto, a maioria das crianças entre 6 e 8 anos volta-se primeiro para a tela, assim como os alcoólicos, em estudos similares, voltam-se para uma caneca de cerveja ou uma taça de vinho. (p. 138)

Os adolescentes e os estudantes universitários utilizam seus blogues pessoais para fazer comentários maldosos sobre professores e colegas, e depois se espantam quando as vítimas leem o ataque e cobram satisfações. (p. 139)

Sites de redes sociais na internet, como o Bebo, divulgam a mensagem de que até mesmo os detalhes mais banais de nossas vidas privadas merecem ser divulgados para uma audiência global. (p. 140)

Essa é a parte do cérebro que nos ajuda com as multitarefas, no sentido de alternar entre elas. No entanto, essa região do cérebro amadurece mais tarde, o que significa que as crianças estão menos equipadas para alternar tarefas do que os adultos. Em outras palavras, todas essas histórias sobre como a nova geração de digitais natos que executam multitarefas representa um grande salto evolucionário são apenas isso: histórias. (p. 149)

A pesquisa sugere que o cérebro humano necessita de momentos de silêncio e descanso para processar e consolidar ideias, memórias e experiências. Ele também precisa estar relaxado para ingressar em um modo de pensamento mais rico e criativo. Como isso pode acontecer se cada segundo é preenchido com tagarelice eletrônica? (p. 150)

Em uma recente conferência sobre o futuro da tecnologia, Dipchand Nishar, diretor de produtos wireless do Google, lançou uma nota de alarme. "Tivemos a geração X e a geração Y. Agora temos a geração DDA, Desordem de Deficiência de Atenção". (p. 150)

Os estudantes coreanos se incentivam com um mantra terrível: "Durma quatro horas e passe, durma cinco horas e fracasse". (p. 159)

Na Dinamarca, por exemplo, resultados medianos no PISA despertaram o receio de que as escolas dinamarquesas revelavam preocupação exagerada com a felicidade dos alunos. (p. 161)

Mesmo quando investem em balões de ensaio educacionais, as escolas do mundo inteiro falham em produzir um número suficiente e crianças que sejam bem informadas, articuladas, criativas, disciplinadas, éticas e sedentas de aprendizado. (p. 162)

O sentimento atormentado de nunca ser suficientemente bom foi capturado em um recente lamento de um estudante competente da escola Monta Vista: "Lembro-me da época... em que não era necessário dormir apenas quatro horas para mostrar aos meus pais que de fato eu estava fazendo um esforço honesto de estudar. Lembro-me de quando não era necessário tirar notas máximas ou ingressar em um admirável programa honorífico em alguma universidade de elite para que eles se orgulhassem de mim". (p. 164)

Lembram-se daquele relatório do King's College que sugeria que o desenvolvimento cognitivo das crianças inglesas é diminuído porque passam muito pouco tempo brincando ao ar livre? Bem, outros pesquisadores pensam que parte da culpa também pode estar em nossa obsessão com o excesso de obrigações escolares e com os resultados das provas. "Ao darmos ênfase apenas ao básico - ler e escrever - e ao darmos provas como loucos, reduzimos o nível de estímulo cognitivo", diz Phillip Adey, professor de educação do King's College. "As crianças conhecem os fatos, mas não estão pensando muito bem". (p. 165)

"Quando ensina para a prova, você produz crianças que podem passar em provas", diz uma professora montessoriana de Toronto. "Quando se esquece a prova e se ensina à criança, você produz uma pessoa completa". (p. 167)

Você não pode obrigar uma criança a crescer mais rápido apenas para adaptar-se ao seu sistema, ao seu cronograma ou ao seu ego; é preciso descobrir como as crianças aprendem melhor. Muitos países se esqueceram disso. (p. 171)

O que aprendi nessa turnê educacional? A primeira lição é que não existe uma receita única para a escola ideal: não se pode transplantar o sistema educacional finlandês para a Itália, para o Canadá ou para a Coreia, porque ele é uma expressão da cultura finlandesa. (p. 194)

Em 2002, Ridgewood foi pioneira em um evento anual chamado Ready, Set, Relax [Preparados, prontos, relaxem!]. (p. 219)

Dorothy Canfield Fisher, uma conhecida escritora-e-guru-da-educação alertou, em 1914 que os pais norte-americanos estavam despojando a infância de sua "abençoada espontaneidade" ao colocarem "uma pressão constritiva sobre as crianças para que usassem até mesmo as frestas e fragmentos de seu tempo de modo a garantirem realizações que achavam ser vantajosas para elas". (p. 220)

Por que tantas crianças estão tão ocupadas hoje em dia? Uma das razões para isso foi o aparecimento da mãe que trabalha fora. Quando mamãe ficava em casa, era mais fácil deixar as crianças brincarem ali por perto. Mas quando as mulheres ingressaram no mercado de trabalho, e a família extensa se dissolveu, alguém teve que enfrentar esse abandono no front do cuidado das crianças. As atividades extracurriculares preencheram esse espaço perfeitamente, prometendo não só tomar conta das crianças, como também enriquecê-las pessoalmente. (p. 221)

O temor do que os jovens farão se deixados entregues a si mesmos é muito antigo. O Office of Christian Parents, um manual puritano publicado em 1616, alerta que as crianças com muito tempo à sua disposição correm o risco de tornar-se "ociosas... pessoas vis e abjetas, mentirosas, ladras, feras do mal, preguiçosas e imprestáveis". (p. 222)

Quando tudo tem seu horário, não se aprende nunca como apresentar ideias próprias ou como criar sua própria diversão. (p. 226)

Mas nem tudo isso é necessariamente ruim. Os esportes organizados podem ser maravilhosos para as crianças, conservando-as longe dos Xbox e de outras tentações, proporcionando-lhes exercícios e valiosas lições sobre trabalho em equipe, disciplina e os altos e baixos de ganhar e perder. O treinamento particular pode aperfeiçoar o lançamento, a recepção da bola, o equilíbrio e outras habilidades. reinadores e pais fiam arrebatados. Como refrear adultos fora de controle agora é um tema constante do Congresso Internacional de Esportes Juvenis, que se reúne anualmente. (p. 243)

O próprio Fauviau declarou ao tribunal: "Eu me sentia como se estivesse sendo permanentemente julgado pelo desempenho de meus filhos". (p. 245)

O estudo mais recente feito pelo Instituto Josephson de Ética, dos Estados Unidos, descobriu uma crescente disposição, entre atletas jovens, para trapacear na escola. A conclusão foi que, hoje em dia, "para a maior parte dos jovens, o esporte promove a trapaça, em vez de desencorajá-la". (p. 246)

"Nossa Terra degenerou nesses últimos dias... Os filhos não obedecem mais aos seus pais; e o fim do mundo evidentemente se aproxima". Assim diz a inscrição em uma tábua de argila assíria de 2800 a.C. (p. 266)

No Japão, uma palavra para intimidação, ijime, ingressou na língua nos anos 1980. (p. 268)

A maior parte dos especialistas recomenda que, quando estamos disciplinando crianças, devemos sempre explicar os motivos. (p. 277)

Na Inglaterra do século XVIII, os pais acalmavam crianças indisciplinadas usando soluções baseadas em ópio com nomes como O Ajudante da Mãe, Tranquilidade da Criança e Xarope Calmante. Em 1799, um médico inglês alertou que milhares de bebês estavam sendo mortos por amas e enfermeiras "que continuamente faziam descer por suas pequenas gargantas o Cordial de Godfrey, um forte derivado do ópio e tão letal quanto o arsênico. Elas faziam isso para acalmar a criança - e assim muitas foram aquietadas para sempre". (p. 278)

Os céticos questionam se a DADH realmente é uma condição neurológica e se drogas deviam ser utilizadas para tratar os sintomas associados a ela. Muitos clínicos têm tido sucesso curando a hiperatividade com terapia e aulas para os pais ou alterando a dieta e a rotina de exercícios da criança. (p. 279)

Para alguns, a DADH pode ser uma desculpa para uma criança com mau desempenho: "Não é sua (ou nossa) culpa que ele esteja falhando na escola; é um desequilíbrio neuroquímico". (p. 280)

Algumas pesquisas sugerem que a Ritalina reduz a criatividade, a espontaneidade e a capacidade de assumir riscos calculados. (p. 281)

Tanto Courtney Love como Kurt Cobain usaram Ritalina quando crianças, e ambos falavam de levar essa mentalidade de "pílula alegre" para a vida adulta. (p. 281)

Seu filho Richard foi diagnosticado com DADH e começou a tomar Concerta depois do seu 12º aniversário. A droga curou sua hiperatividade, mas também matou seu apetite e lhe causou insônia. Richard deixou de ser um feixe de energia e passou a levar tardes inteiras jogando no computador como um zumbi. (p. 281)

Talvez a maior lição seja a de que não existe fórmula mágica para controlar as crianças, nem deveria existir. Pensem nisso por um segundo: existe algo mais assustador que uma criança que se comporta impecavelmente todo o tempo? Ou uma família que não briga nunca? Revoltar-se contra a autoridade faz parte do crescimento - todos sabem disso instintivamente -, e o conflito é uma característica da vida familiar. Pode não ser agradável quando as crianças ficam de mau humor, batem as portas ou murmuram "eu te odeio", mas suportar isso faz parte da criação delas. (p. 282)

Quando o autor Frank Cottrell Boyce recentemente perguntou a um grupo de alunos de escola primária de Londres o que fariam se lhes fosse dada uma grande quantia de dinheiro, todos mencionaram rapidamente uma lista de artigos da moda que comprariam. Nenhum falou em construir uma espaçonave ou qualquer outra coisa que lembrasse aventura ou imaginação. Boyce afirma: "Todo esse consumismo está oprimindo a capacidade de fantasiar, de mergulhar em um outro mundo, que você próprio cria". (p. 293)

Dar a uma criança "o melhor de tudo" tira dela a chance de aprender a fazer o melhor uso do que tem. (p. 294)

De modo similar, alguns psicólogos começaram a denunciar colegas que usam seus conhecimentos para ajudar empresas a vender para crianças. O cantor canadense Raffi e outras celebridades simpáticas às crianças juntaram suas vozes ao coro. Escolas em todo o mundo agora fazem seminários sobre como as famílias podem combater a birra das crianças. (p. 296)

O que as crianças realmente precisam e querem de nós é o que mais achamos difícil dar: nosso tempo e nossa atenção, sem condições. (p. 299)

A própria ideia de celebrar a data do nascimento de uma criança é moderna. No começo da Idade Média, a Igreja denunciava as festas de aniversário como pagãs e tentou erradicá-las. (p. 301)

Vejam o sucesso das clínicas que oferecem tratamentos de beleza e transformações estéticas para pré-adolescentes. Ou como a indústria do jogo está tornando os hotéis dos cassinos mais simpáticos às crianças, até mesmo instalando máquinas caça-niqueis com temas da Pantera Cor-de-Rosa. A Kidsbeer, uma popular bebida sem álcool do mercado pré-adolescente no Japão, parece cerveja, vem em garrafas de vidro marrom e é vendida com slogans do tipo: "Perfeita para aquelas noites em que você quer ser um pouco como um adulto". Uma das propagandas da empresa mostra um menino que se lamenta por ter fracassado em uma prova de matemática e depois verte lágrimas de prazer ao tomar uma Kidsbeer. (p. 308)

Hoje em dia, atrasamos o relógio até a era do pré-iluminismo: pessoas de todas as idades vestem as mesmas coisas. A diferença agora é que as crianças estão sendo introduzidas em uma cultura adulta que fica cada vez mais descuidada. Adeus fralda e babador. Olá sutiã com enchimento da Pequena Senhorita Sapeca. Na TV para crianças, os graves apresentadores de outrora foram substituídos por imitadoras de Shakira que usam tatuagens provocantes e barrigas desnudas. A boneca Barbie, que, com sua figura anatomicamente impossível e seu guarda-roupa glamoroso tornou-se a bête noire do feminismo, viu-se eclipsada pela supersensual e debochada boneca Bratz. Pode-se até mesmo comprar uma roupinha adornada com a frase "Jr. Pimp Squad". (p. 309)

Mesmo que não compremos para nossas filhas camisetas dizendo: "Tantos garotos no mundo e tão pouco tempo", elas ainda assim parecem incorporar as vibrações do sexo por osmose. (p. 309)

Talvez isso explique por que a ansiedade infantil está crescendo, por que as crianças de muitos países estão se tornando sexualmente ativas mais cedo ou por que as desordens alimentares, a disforia corporal (o mal-estar provocado pela ansiedade) e outras doenças antes associadas aos adultos agora são comuns entre os jovens. Em uma recente pesquisa feita na Austrália, mais de 70% das meninas de 7 e 8 anos disseram aos pesquisadores que desejavam ser mais magras, e a maior parte delas acreditava que perder peso as faria mais aceitas e socialmente apreciadas. Um estudo de 2007 de uma comissão especial da Associação Psicológica dos EUA concluiu que o tratamento sexual dado à vida das meninas promove a insatisfação com o próprio corpo, depressão e baixa autoestima.
E chegamos à pergunta mais incômoda de todas: se vestimos nossas filhas como Lolita, que mensagem está sendo enviada aos pedófilos, com os quais tanto nos preocupamos? (p. 311)

Mesmo que os crimes de pedófilos não tenham aumentado nos últimos 20 anos, a devotada cobertura deles multiplicou-se. (p. 322)

Crianças que são criadas em uma torre de marfim podem eventualmente passar para o outro extremo, buscando as emoções extremas das drogas, do sexo, da direção perigosa ou da violência. (p. 324)

Em anos recentes, as taxas de alergia aumentaram entre as crianças em todo o mundo. Os cientistas ainda estão tentando descobrir o porquê, mas alguns suspeitam que parte da culpa pode caber ao ambiente altamente saneado no qual tantas crianças crescem hoje em dia. Vejam o que aconteceu na Alemanha. Antes da unificação, as taxas de alergia eram muito mais altas na parte ocidental, embora na metade oriental, controlada pelos comunistas, houvesse uma poluição muito pior e muitas crianças vivessem em fazendas. Depois que os dois países se reuniram, a Alemanha Oriental foi limpa e urbanizada - e as taxas de alergia aumentaram. Outra pesquisa sugere que o expressivo aumento de crianças com diabetes de tipo 1 também pode resultar de ambientes saneados demais. Isso nos traz de volta à velha ironia sobre a infância moderna: ao lutar para criar um ambiente ideal para as crianças, nesse caso um ambiente escrupulosamente higiênico, podemos, na verdade, estar tornando-as mais fracas. Cada jato de spray de antigripal, cada providência de assepsia antibacteriana, cada hora de brincadeira ao ar livre substituída por uma hora de atividades a portas fechadas podem estar negando-lhes oportunidades de desenvolverem seus  sistemas imunológicos. Se for assim, então os jardins de infância como o Secret Garden são exatamente o que o doutor receitou. (p. 332)

Se quisermos reinventar a infância de um modo que seja bom tanto para as crianças como para os adultos, então teremos que aprender a tolerar a diversidade, a dúvida, arestas ásperas aqui e ali, até mesmo o conflito. Temos que amar as crianças pelo que elas são, não pelo que queremos que elas sejam. (p. 340)

O que descobri é que não existe uma fórmula única para criar filhos. Claro, existem alguns princípios básicos que permanecem verdadeiros em todas as classes e culturas: as crianças precisam sentir-se seguras e mamadas; precisam do nosso tempo e atenção incondicionalmente; precisam de fronteiras e limites, de espaço para assumir riscos e cometer erros; precisam passar um tempo ao ar livre; precisam ser menos avaliadas e catalogadas; precisam de comida saudável; precisam aspirar a alguma coisa mais importante do que possuir o próximo produto de marca; precisam de espaço para serem elas mesmas. (p. 341)

Como cada criança e cada pai ou mãe são diferentes, cada família deve encontrar a fórmula que funcione melhor para ela. Isso não é tão assustador como parece. (p. 341)

Meio século atrás, um influente pediatra inglês chamado D. W. Winnicott afirmou que planejar a infância perfeita era impossível e que lutar para fazer isso era danoso tanto para os pais como para as crianças. Em vez disso, os pais devem aspirar a atender às necessidades de seus filhos sempre que puderem e aceitar que eventualmente falharão. (p. 342)

Em vez de fazer um bolo com seus filhos porque isso lhes ensinará peso, volume e aritmética ou acariciar seu bebê porque isso construirá seu córtex pré-frontal, faça essas coisas pela pura alegria de fazê-las. Deixe a recompensa evolutiva por conta dela mesma. (p. 343)

Os pais do século XXI devem atingir um equilíbrio entre crescer e nunca crescer. (p. 343)


Nenhum comentário:

Postar um comentário