O preconceito e a própria discriminação (discriminação é o preconceito em ação) ganham terreno quando falamos da suposta inferioridade da mulher com relação ao homem, do velho com relação ao jovem, do índio com relação ao branco. (p. 7)
Olhamos os negros com rancor, como se eles tivessem escolhido vir para cá "manchar a sociedade branca". Após escravizá-los, reclamamos de seu caráter submisso. Após esmagá-los de trabalho, por séculos, falamos de sua preguiça. Depois de deixá-los na rua, quando da Abolição, não nos conformamos com sua pobreza. O problema do negro deve ser explicado pela História, nunca pela biologia. (p. 23)
Para um dramaturgo e romancista como Jean Genet, ser "homossexual" é ser rebelde, o que exclui qualquer integração numa sociedade de classe, racista, capitalista, consumista, religiosa, como está atualmente constituída a sociedade em que vivemos. (p. 35)
Este é um preconceito, o medo de não controlar as pessoas e seus comportamentos pelas palavras, o medo de que a fluidez dos comportamentos possa escapar ao policiamento linguístico, e portanto moral, psicológico e médico. (p. 35)
Poderíamos pois, de maneira figurada, dizer que o jovem é um organismo principalmente biológico, enquanto o idoso é principalmente biográfico. (p. 40)
O melhor combate ao preconceito é o exercício sistemático do respeito, e o verdadeiro conceito de respeito é atenção, individualização no trato, que é exatamente o oposto do que sucede com o preconceito. Pode-se pois afirmar que o preconceito é, antes de mais nada, uma falta de respeito à pessoa humana. (p. 40)
A própria diversidade encontrada na natureza nos ensina que cada espécie, tão diferente uma da outra, tem sua função e é vital para a harmonia do universo. (p. 41)
Praticamente todas as pessoas, mesmo aquelas que tenham algum grau de demência, podem decidir sobre diversos aspectos de suas vidas (o que querem comer, como querem vestir-se etc.) e estas escolhas são importantes na manutenção da autoestima. (p. 42)
Cada indivíduo, seja ele novo ou velho, homem ou mulher, tem uma vida sexual saudável quando pode extrair dela qualidade, e não propriamente quantidade. (p. 43)
Assim é que, aos 19 anos, já somos considerados aptos a escolher os destinos da nação em eleições, mas ainda mão podemos pegar o carro emprestado pra comprar chiclete na padaria. Até os 21 anos, não podemos cruzar as fronteiras nacionais em viagens de turismo sem autorização de nossos pais, mas aos 18 já podemos - aliás, somos obrigados - alistar-nos na trupe dos que se fantasiam de azeitona e temos a obrigação de não só invadir o território alheio em caso de guerra, como matar o inimigo. (p. 51)
Como disse outro poeta, o dos Anjos:
"Se a alguém causa inda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga
Escarra nessa boca que te beija!" (p. 55)
Se dizer Cráudia, praca, pranta é considerado "errado", e, por outro lado, dizer frouxo, escravo, branco, praga é considerado "certo", isso se deve simplesmente a uma questão que não é linguística, mas social e política - as pessoas que dizem Cráudia, praca, pranta pertencem a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que não tem acesso à educação formal e aos bens culturais da elite, e por isso a língua que elas falam sofre o mesmo preconceito que pesa sobre elas mesmas, ou seja, sua língua é considerada "feia", "pobre", "carente", quando na verdade é apenas diferente da língua ensinada na escola. (p. 65)
Eu, você, a vizinha fuxiqueira, o professor moderninho, o bonitão da novela ou a garota sarada somos todos preconceituosos quando não aprendemos a respeitar a diversidade do mundo em que vivemos. (p. 70)
"Ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento", dizia a ex-primeira dama americana Eleanor Roosevelt. (p. 83)
Era uma vez um rapaz que estava tão inspirado que resolveu mudar o mundo. Ele estava plenamente convencido de que seus sonhos e suas ideias podiam revolucionar o universo. Mas quando tentou implementá-los, percebeu que o mundo era grande demais para uma pessoa só mudá-lo. Resolveu, então, mudar seu país. Mas logo viu que isto também era uma tarefa grande demais para uma única pessoa. Daí, resolveu mudar sua comunidade. Mas logo percebeu que até isso era difícil demais para ele. Então, resolveu mudar a si mesmo. E quando começou a ser tolerante para com os outros e passou a se comportar corretamente, ele foi contagiando todos ao seu redor. E sua comunidade, ficou melhor, seu país ficou melhor, o mundo ficou melhor. (p. 87)
Por volta do ano 1200, a Igreja adotou normas oficiais de segregação, criando "ruas de judeus" e "bairros judaicos", ao mesmo tempo em que obrigava os judeus a se identificarem no modo de vestir, por meio do uso de um chapéu pontudo, vermelho ou amarelo, ou então um distintivo amarelo pregado na roupa, que serviu de modelo para os decretos nazistas no século XX. (p. 90)
No fundo, a raiz da intolerância religiosa, tanto nos tempos antigos como em nossos dias, é uma só: a aversão àqueles que são "diferentes". (p. 92)
5 em cada 100 brasileiros (8,1 milhões) têm deficiências mentais; 2 em cada 100 (3,24 milhões), deficiências físicas; 1,5 em cada 100 (2,43 milhões), auditivas; 1 em cada 100 (1,62 milhão), múltipla e 0,5 em cada 100 (810 mil), visuais. (p. 96)
Em vez de pensarem políticas públicas que possibilitem a inclusão social, planejam políticas destinadas às pessoas pobres. (p. 114)
Nas novelas, o personagem que representa o "pobre" tem casa arrumadinha, comida na mesa e não precisa se preocupar com a questão econômica. O padrão de vida das pessoas pobres aproxima-se, na tela, ao padrão das pessoas ricas. Segundo os especialistas, as pesquisas de audiência indicam que o público desse tipo de programação não aprecia cenas da realidade da pobreza. (p. 117)
Exigir "boa aparência" na seleção de um emprego é uma forma de discriminar diferenças. (p. 118)
Há uma frase do grande poeta português, Fernando Pessoa, que ilustra esse debate: "O binômio de Newton é tão belo quanto a Vênus de Milo. A questão é a possibilidade de entender/sentir tais belezas." (p. 19)
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