segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Bullying: mentes perigosas nas escolas - Ana Beatriz Barbosa Silva (2010)

É necessário entendermos que brincadeiras normais e sadias são aquelas nas quais todos os participantes se divertem. Quando apenas alguns se divertem à custa de outros que sofrem, isso ganha outra conotação, bem diversa de um simples divertimento. Nessa situação específica, utiliza-se o termo bullying escolar, que abrange todos os atos de violência (física ou não) que ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos, impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. (p. 13)

A palavra bullying ainda é pouco conhecida do grande público. De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizada para qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas. Dentre esses comportamentos podemos destacar as agressões, os assédios e as ações desrespeitosas, todos realizados de maneira recorrente e intencional por parte dos agressores. (p. 21)

De forma quase "natural", os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. E isso, invariavelmente, sempre produz, alimenta e até perpetua muita dor e sofrimento nos vitimados.
Se recorrermos ao dicionário, encontraremos as seguintes traduções para a palavra bully: indivíduo valentão, tirano, mandão, brigão. Já a expressão bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender. (p. 21)

No contexto familiar, os bullies crescidos e mais experientes podem ser identificados na figura de pais, cônjuges ou irmãos dominadores, manipuladores e perversos, capazes de destruir a saúde física e mental, e a autoestima de seus alvos prediletos. No território profissional, costumam ser chefes ou colegas tiranos, "mascarados" e impiedosos. Suas atitudes agressoras (ou transgressoras) estão configuradas na corrupção, na coação, no uso indevido do dinheiro público, na imprudência arbitrária no trânsito, na negligência com os enfermos, no abuso de poder de lideranças, no sarcasmo de quem se utiliza da "lei da esperteza", no descaso das autoridades, no prazer em ver o outro sofrer... (p. 22)

Ultimamente o transtorno do pânico já pode ser observado em crianças bem jovens (6 a 7 anos de idade), muito em função de situações de estresse prolongado a que estão expostas. O bullying, certamente, faz parte dessa condição. (p. 26)

Quem apresenta fobia social, também conhecida por timidez patológica, sofre de ansiedade excessiva e persistente, com temor exacerbado de se sentir o centro das atenções ou de estar sendo julgado e avaliado negativamente. (p. 27)

O fóbico social de hoje pode ter o transtorno deflagrado em função das inúmeras humilhações no seu passado escolar; danos e sofrimentos que são capazes de se refletir por toda uma existência. (p. 27)

Os sintomas mais característicos de um quadro depressivo são: tristeza persistente, ansiedade ou sensação de vazio; sentimentos de culpa, inutilidade e desamparo; insônia ou excesso de sono; perda ou aumento de apetite; fadiga e sensação de desânimo; irritabilidade e inquietação; dificuldades de concentração e de tomar decisões; sentimentos de desesperança e pessimismo; perda de interesse por atividades que anteriormente despertavam prazer; ideias ou tentativas de suicídio. (p. 28)

Os transtornos alimentares mais relevantes em nosso contexto sociocultural são a anorexia e a bulimia nervosas. Esses transtornos já são considerados epidemia nas sociedades ocidentais, acometendo especialmente mulheres (em 90% dos casos), sobretudo as adolescentes e as adultas jovens. (p. 29)

É importante destacar que a anorexia e a bulimia são patologias que necessitam ser diagnosticadas e tratadas o mais precocemente possível. Porém, não podemos perder de vista que a formação da autoimagem corporal de cada pessoa está fortemente influenciada pela maneira como a sociedade "impõe" o que é ter um corpo esteticamente apreciável. (p. 30)

A vulnerabilidade de cada indivíduo, aliada ao ambiente externo, às pressões psicológicas e às situações de estresse prolongado, pode deflagrar transtornos graves que se encontravam, até então, adormecidos. (p. 32)

Jamais podemos perder de vista que tolerar o intolerável e justificar o injustificável são posturas de extremo desrespeito para com a maioria absoluta da humanidade, que batalha todos os dias por um mundo melhor e menos violento. (p. 53)

Temos que considerar que comportamentos agressivos do tipo transgressor são frequentes na adolescência, afinal é nesse período da vida que nos lançamentos no mundo em busca de nossa identidade. A adolescência pressupõe riscos, aventuras, inquietações, angústias, descobertas, irresponsabilidades pontuais, insensatez, paixões, emoções exacerbadas etc. Na maior parte das vezes, todas essas manifestações não são fruto de patologias de fundo psíquico individual ou sociofamiliar (apesar de a maioria das pessoas achar o contrário). Elas são, na maioria absoluta dos casos, manifestações exasperadas, ainda que disfuncionais e socialmente inaceitáveis, de jovens se lançando na busca de sua própria identidade. Em última instância, são as formas tortas e ineficazes de demostrarem que existem e que valem alguma coisa para seus colegas, amigos, familiares e também para a sociedade. (p.67)

As "ferramentas" que os adultos devem utilizar para intervir, evitando as consequências mais dramáticas nessa difícil fase de transição para a vida adulta, são: o estímulo ao diálogo, a escuta atenta e empática, a construção de vínculos afetivos fortes, o desenvolvimento de uma reflexão crítica, o incentivo à participação familiar e escolar, a orientação para a responsabilização por si mesmos e pelos outros, a criação e a implementação de regras e o estabelecimento precoce (desde os primeiros anos de vida) de limites muito bem definidos. (p. 69)

A personalidade resulta da interação do temperamento com a grande variedade de situações que vivenciamos ao longo do tempo. O temperamento diz respeito aos traços biológicos que herdamos (material genético) de nossos familiares. Já a nossa história psicológica é formada por uma gama de comportamentos e sentimentos que desenvolvemos como resposta às diversas circunstâncias da vida. (p. 73)

A palavra resiliência significa: 1) propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é desenvolvida quando cessa a tensão causadora da deformidade (característica típica do elástico, que, mesmo depois que encolhe, pode ser esticado novamente); 2) capacidade de resistir ao choque. Ambas as definições de resiliência referem-se a características físicas de um material. Em termos de comportamento humano, a resiliência pode ser entendida como a capacidade que um indivíduo possui de transmutar sofrimento, dor, rancor, mágoa ou raiva em aprendizado. (p. 76)

Aristóteles, filósofo grego de 400 a.C., afirmou: "Somos o que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito." Albert Einstein, de forma intuitiva, também constatava isso em meados do século passado ao dizer: "A genialidade é 10% de talento e 90% de transpiração." (p. 83)

As mentes humanas são capazes de criar poderosas ferramentas, porém devem ter o compromisso ético de só usá-las para os bons propósitos. (p. 125)

É importante reparar o comportamento dos filhos, especialmente em relação ao uso do computador: quantas horas por dia eles ficam "navegando". Durante esse período, eles costumam ter reações como xingar, chorar, gargalhar, ou ficam muito quietos? É comum tentarem esconder a tela do computador quando alguém entra em seu quarto? O comportamento fora da internet também deve ser bem observado: evitam ir à escola? Dormem demais? Tiveram perda ou ganho de apetite? Apresentam insônia, explosões de raiva ou crises de choro? (p. 138)

Por fim, encontramos também uma minoria de jovens que tem a transgressão pessoal e social como base estrutural de sua personalidade. Esses agressores são desprovidos de consideração, de empatia e de compaixão por seus colegas, irmãos, professores e até mesmo por seus pais. Suas atitudes expressam uma maneira de sentir na qual o outro tem a única função de lhe proporcionar diversão, status e poder. (p. 155)

Não há dúvida de que o fenômeno bullying estimula a delinquência e induz a outras formas explícitas de violência, capazes de produzir, em níveis diversos, cidadãos estressados, com baixa autoestima e reduzida capacidade de autoexpressão. Além disso, como já mencionado, as vítimas de bullying estão propensas a desenvolver doenças psicossomáticas, transtornos mentais leves e moderados e até psicopatologias graves. (p. 155)

Quando ocorrer lesão corporal, calúnia, injúria ou difamação, os pais ou responsáveis devem registrar o fato em uma delegacia de polícia, através de um boletim de ocorrência. Nos casos mais graves, se a escola não informar o Conselho Tutelar, poderá ser responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais (ou ilícitos), a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial. Dessa forma, os fatos poderão ser devidamente apurados pelas autoridades competentes e os culpados responsabilizados. Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o crescimento da violência e da criminalidade infantojuvenil. (p. 168)




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